Wonka: a fantasia ainda oferece gratas surpresas ao cansaço da adultez ante o mundo
Título: Wonka
País de origem: Estados Unidos e Reino Unido
Duração: 117 minutos
Gênero: aventura; fantasia; comédia musical
Direção: Paul King
Roteiro: Simon Farnaby, Simon Rich e Paul King
Obra original: Roald Dahl (1964)
Produção: David Heyman, Alexandra Ferguson-Derbyshire e Luke Kelly
Produção executiva: Cate Adams
Direção de fotografia: Seamus McGarvey
Montagem: Mark Everson
Figurino: Lindy Hemming
Trilha sonora: Joby Talbot
Empresa produtora: Heyday Films
Distribuição (Brasil): Warner Bros. Pictures
Elenco: Timothée Chalamet, Paterson Joseph, Calah Lane, Keegan-Michael Key, Sally Hawkins, Rowan Atkinson, Olivia Colman, Jim Carter, Luan Gallagher, Matt Lucas, Mathew Baynton, Hugh Grant
Sou alguém impaciente com filmes de origem, já o disse. Por autoproteção, afirmo, não alimentei mais expectativas sobre Wonka (Warner Bros. Pictures, 2023), pois desejava ser surpreendida ou apenas não enfadada. A posteriori, no entanto, constatei que precisava vê-lo, qual grata surpresa revelou-se.
No papel de um jovem chocolateiro em busca do sucesso de seu negócio, Timothée Chalamet cativa pela execução carinhosa e inteiramente carismática de uma conhecida personagem a perseguir a excelência no ramo para reencontrar a inspiração e a companhia da saudosa mãe (Sally Hawkins). Os constantes travellings e a alternância entre planos abertos e fechados servem à apresentação dos supercoloridos sonhos de Willy Wonka e dos companheiros de jornada, por sua vez, dispostos em tela a partir de efeitos em animação e de um CGI cuja execução é medida complementar à diegese narrativa. Enquanto a simpática Noodle de Calah Lane assume gradativo coprotagonismo à trama central nos 2º e 3º atos, a disputa de Willy com os magnatas cartelistas do ramo Arthur Slugworth (Paterson Joseph), Bill Fickelgruber (Mathew Baynton) e Mr. Prodnose (Matt Lucas) pela consolidação da Wonka’s é matéria de criação dos melhores momentos cômicos e dramáticos do longa. Já a conexão com o presente constrói-se ante a crítica subjacente ao oligopolismo capitalista, à promiscuidade Igreja-Estado na corrupção ao colonialismo das mentalidades e ao respectivo sacrifício imposto às subjetividades via padronização de gostos e uniformização de histórias individuais, aliás, refletidas no apelo da adesão ao jugo opressor por oprimidos e à perseguição ao poder simbólico (Bourdieu, 1989) de Alva Scrubbit (Olivia Colman) e do Chefe de Polícia (Keegan-Michael Key).
Além dos virtuosismos técnicos de Wonka, destaco do roteiro de Paul King, de Simon Farnaby e de Simon Rich o trabalho da relação mãe-filho e filha, fio inspirador da jornada do herói de Chalamet. Ponto de encontro de ambas as trajetórias, o chocolate mais simbolizaria o desejo em retornar à infância para o convívio jamais a findar com a sua pessoa amada e aos sonhos sem outras máculas do esforço único de subsistência. Segredo maior da existência é, em verdade, o amor, como, ao fim, legaria a genitora, e apenas a caminhada da vida poderia mostrar ao menino e ao jovem Willy a importância da boas parcerias e do compromisso com a própria felicidade, busca e sucesso da passagem nossa no presente. Embora moral, em razão do caráter (quase) fabulesco da obra, a lição, além de atemporal, oferece novo fôlego à juventude agora ingressa ao mundo encantado de Roald Dahl (1964) e à adultez cujo acolhimento parece urgente.
Com estreia marcada para esta quinta-feira, dia 7/12, sirva Wonka ao descanso e à renovada esperança na fantasia enquanto alternativa ao fim do mundo.