Wish: O Poder dos Desejos: as consequências de nossas ações precisam guiar a prática cotidiana, ainda que não revelem autoarrogados heroísmos

Thainá Campos Seriz
3 min readJan 3, 2024

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Pôster promocional de “Wish: O Poder dos Desejos” (título original: “Wish”), longa de animação celebrativo do centenário de fundação dos Estúdios Walt Disney que chega ao Brasil em 4/1/24. Foto: reprodução.

Título original: Wish
País de origem: Estados Unidos (2023)
Duração: 95 minutos
Gênero: musical; fantasia; animação
Direção: Chris Buck e Fawn Veerasunthorn
Roteiro: Jennifer Lee e Allison Moore
Produção: Peter Del Vecho e Juan Pablo Reyes
Música: David Metzger
Montagem: Jeff Draheim
Design de produção: Michael Giaimo
Direção de elenco: Jamie Sparer Roberts e Grace C. Kim
Empresa produtora: Walt Disney Animation Studios
Distribuição (Brasil): Disney Pictures
Elenco: Ariana DeBose, Chris Pine, Alan Tudyk, Angelique Cabral, Victor Garber, Evan Peters

Longa-metragem de animação celebrativo dos cem anos dos Estúdios Walt Disney, Wish: O Poder dos Desejos (título original: Wish) (Walt Disney Studios Motion Pictures, 2023) trabalha premissa básica, porém congruente à história de fundação do conglomerado: desejos, ou sonhos, são realizáveis e, malgrado as adversidades, necessário é continuar a sonhá-los, pois a realidade criar-se-á. Afinal, basta desejar. Não obstante a bela mensagem, incluindo-se contradições inerentes, a crise na idealizadora de algumas das maiores produções do gênero no cinema mundial fez inflexionar-se neste lançamento dirigido por Fawn Veerasunthorn e por Chris Buck, cuja estreia está marcada para este 4/1, quinta-feira, nas salas escuras do país.

Saturada, a adoção de uma clássica estrutura narrativa de oposição tanto estética quanto moral de heróis/heroínas e de vilões/vilãs ignora que, em 2023, já nos reconhecemos vilãs/vilões e heroínas/heróis conjunturais de nossas vidas, pois agentes e relacionais o somos. Asha (Ariana DeBose; Luci Salutes), na tentativa de realizar o sonho do amado e centenário avô Sabino (Victor Garber; Carlos Campanille), candidata-se à vaga então aberta de aprendiz de Magnífico (Chris Pine; Raphael Rossatto), monarca de Rosas e mago protetor dos sonhos de súditas e de súditos do reino criado ao lado da companheira Amaya (Angelique Cabral; Shallana Costa). Se as boas intenções de tão simpática protagonista credibilizariam parte de suas reivindicações, e fá-lo, no entanto, eventuais e imagináveis consequências deveriam igualmente servir ao questionamento de autocentrados voluntarismos ignorantes às repercussões coletivas de atos individuais, em especial, daqueles perpetrados às expensas ou ao sacrifício de diferentes quereres. Senão dos próprios, a responsabilidade de guarda e de consecução dos sonhos de outrem pertence ao indivíduo sonhador, e a empatia e a solidariedade demonstráveis/a demonstrar não podem sublimar ou despotencializar as demais agências.

Asha (Ariana DeBose) quer ser aprendiz de Magnífico (Chris Pine), soberano de Rosas e presuntivo protetor dos sonhos de cada habitante do reino. Foto: divulgação/Guia Disney+ Brasil.

Claro, nenhum senso egoico de grandeza jamais justificará quaisquer fúria e megalomania tirânicas, a despeito de um passado de violências, mas várias também foram as soluções ficcionais oferecidas no passado a ocorrências do tipo — mesmo as não exploradoras da complexidade humana — . Nesta quadra da história, contudo, apresentar o recurso à coletividade aquando do necessário resgate das ações de um ou de outro agente para a redenção de interesses únicos parece irresponsável e, diria, anacrônico. Afora a incorporação inorgânica de referências a outros dos clássicos do estúdio em tela, os nada criativos efeitos imagéticos só rivalizam com as esquecíveis canções dos números musicais, feito decepcionante a uma animação Disney.

Pouco recordada na atual temporada de premiações, Wish: O Poder dos Desejos deveria ser alerta último a uma necessária atualização de objetivos e de histórias a eternizar às novas gerações, referencial que ainda pode ser e já foi aos adultos e às adultas de hoje.

Na imagem mais à esquerda, Asha (Ariana DeBose) aparece junto aos companheiros de jornada Valentino (Alan Tudyk) e Estrela. Ao centro e à direita, ficam o retrato das dúvidas da protagonista quanto a Magnífico (Chris Pine) e as verdadeiras faces do tirânico antagonista. Fotos: reprodução.

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Thainá Campos Seriz
Thainá Campos Seriz

Written by Thainá Campos Seriz

Historiadora (UFF). Pesquisa e revisão de conteúdo no Canal Preto. Escrevo sobre cinema.

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