Um Homem Diferente: suspense psicológico de Aaron Schimberg critica capacitismo estrutural, mas recai em armadilha revitimizatória das individualidades entre escrutínio que deveria ser coletivo
Título original: A Different Man
País de origem: Estados Unidos (2024)
Duração: 112 minutos
Gênero: suspense psicológico; drama
Direção e roteiro: Aaron Schimberg
Produção: Christine Vachon, Gabriel Mayers e Vanessa McDonnell
Coprodução: Pamela Koffler
Fotografia: Wyatt Garfield
Montagem: Taylor Levy
Direção de arte: Anna Kathleen
Música: Umberto Smerilli
Som: David Forshee
Desenho de som: Neil Benezra
Distribuição (Brasil): Clube Filmes
Elenco: Sebastian Stan, Adam Pearson, Renate Reinsve
Os jogos de ângulos, de câmeras e de zooms emulam os olhares que, fóbicos, imprimem-se abjetos sobre Edward (Sebastian Stan). Percebido contra si, o escrutínio capacitista realiza limitante o desejo pela vida e, como medida finalmente expiatória de dor narcísica latente, a participação em um experimento médico devolveria à personagem de Sebastian Stan a chance julgada perdida do romance com Ingrid (Renate Reinsve), não fosse a inglória busca atravessada por um vivaz Oswald (Adam Pearson). Interiorizada, a percepção classificatória das humanidades faz de Um Homem Diferente (título original: A Different Man) (Clube Filmes, 2024) exame nevrálgico da gramática alterocida e do valor social das diferenças, embora o diretor-roteirista Aaron Schimberg conclua por perspectiva individual(ista) de (já) informado problema coletivo.
Decaído entre achaques persecutórios à própria deficiência, o renascido Guy (Stan) convive com expressão identitária ainda moldada em (reativa) defesa ao conhecido, pois vulnerável, lugar de ostracismo, enquanto o homólogo envidado por Adam Pearson reconhece-se no movimento mesmo dirigido à consecução das próprias capacidades, a despeito das violências admitidas onipresentes. Se a moldura de subjetividade dissociada de pertencimento além-vitimizado não é inverossímil, constituição ontológica autorreafirmativa da dignidade pode justapor-se a gesto exclusionário do ser. Coexistentes e perceptíveis à múltipla hierarquia das relações de poder, mais justo a ambas as personas seria pluralizá-las em todas as nuances societárias, a julgar a interdependência meio-indivíduo na produção da liberal economia dos afetos.