Todas as Estradas de Terra Têm Gosto de Sal: lirismo recompõe olhar compassivo sobre trajetórias negras em drama biográfico pretocentrado de Raven Jackson

Thainá Campos Seriz
3 min readNov 20, 2024

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Pôster promocional de “Todas as Estradas de Terra Têm Gosto de Sal” (título original: “All Dirt Roads Taste of Salt”, 2023) (Pandora Filmes, 2024), longa dirigido e roteirizado por Raven Jackson. Foto: divulgação/Pandora Filmes.

Título original: All Dirt Roads Taste of Salt
País de origem: Estados Unidos (2023)
Duração: 118 minutos
Gênero: drama; ficção
Direção e roteiro: Raven Jackson
Produção: Maria Altamirano, M. Ceryak, Barry Jenkins e Adele Romanski
Fotografia: Jomo Fray
Montagem: Lee Chatametikool
Direção de arte: Juliana Barreto Barreto
Música: Sasha Gordon e Victor Magro
Figurino: Pamela Shepard-Hill
Distribuição (Brasil): Pandora Filmes
Elenco: Mylee Shannon, Kaylee Nicole Johnson, Charleen McClure, Zainab Jah, Chris Chalk, Jayah Henry, Sheila Atim, Preston McDowell, Moses Ingram

Espaços de (re)produção de memória, as mãos operam-se dispensadoras de afeto em Todas as Estradas de Terra Têm Gosto de Sal (título original: All Dirt Roads Taste of Salt, 2023) (Pandora Filmes, 2024). Magnética, a câmera apazigua-se ao mosaico jogo mnemônico resultado da primazia do olhar de Mackenzie (Kaylee Nicole Johnson, Charleen McClure e Zainab Jah) sobre a própria história no Mississipi natal e a distintos tempos. À semelhança da metáfora aquática, o fluxo narrativo emula-se inconstante ao desvelamento não linear de um e de outro eventos biográficos para positivar processo, em verdade, pretocentrado de autodefinição.

Em ordem não cronológica, Mackenzie (Kaylee Nicole Johnson, Charleen McClure e Zainab Jah) historiciza suas quatro décadas de existência no Mississipi natal entre as memórias sensorial-afetivas das emoções e da trajetória reconstruídas, enfim, pelas próprias escolhas. Fotos: divulgação/Pandora Filmes.

No retorno à visão de si, a protagonista investiga-se e à coletividade atenta ao pioneirismo de toques e de emoções percebidas seminais. Sutil, a passagem da infância à adolescência e à jovem adultez registra-se à mudança do trançado dos cabelos e do uso ou não ausente de fitas na finalização dos penteados, inscrições análogas de estados psíquicos. Signo do transbordamento romântico, a cor vermelha dos figurinos mescla-se ao azul na demarcação da morada da tristeza e da reminiscência do luto materno, enquanto à trilha sonora apenas diegeticamente inserida, a desilusão amorosa, a maternagem abdicada, o companheirismo paterno-fraternal e a presença da amada avó (Jannie Hampton) opõem-se à chegada à velhice e à percepção do alcance da longevidade. A despeito de dores silenciosas e das perdas acumuladas, como o barro e a água vaticinados essenciais à identidade, os encontros afluem na desembocadura fluvial da vida que, não sem alegrias, unimultiplica-se ante o lirismo de uma existência constituída digna ao sal das lágrimas vertidas de seu lugar no mundo.

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Thainá Campos Seriz
Thainá Campos Seriz

Written by Thainá Campos Seriz

Historiadora (UFF). Pesquisa e revisão de conteúdo no Canal Preto. Escrevo sobre cinema.

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