Tia Virgínia: tragicomédias familiares aproximam o Brasil de si mesmo

Thainá Campos Seriz
3 min readNov 17, 2023

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Pôster promocional de “Tia Virgínia”, longa seis vezes premiado no Festival de Gramado com direção e roteiro de Fabio Meira. Foto: reprodução.

Título: Tia Virgínia
País de origem: Brasil
Duração: 98 minutos
Gênero: comédia; drama
Direção e roteiro: Fabio Meira
Produção: Janaina Diniz Guerra e Fabio Meira
Produção executiva: Camilo Cavalcanti
Produção associada: Thiago Macêdo Correia
Direção de fotografia: Leonardo Feliciano
Montagem: Karen Akerman e Virgínia Flores
Direção de arte: Ana Mara Abreu
Desenho de som: Ruben Valdés
Trilha sonora: Cesar Camargo Mariano
Empresas produtoras: Roseira Filmes e Kinossaurus Filmes
Distribuição: Elo Studios
Elenco: Vera Holtz, Arlete Salles, Louise Cardoso, Antonio Pitanga

O Natal de diversas famílias brasileiras, não obstante pertenças várias, está representado em Tia Virgínia (Elo Studios, 2023), longa ficcional com direção e roteiro de Fabio Meira acerca do desenvolvimento de Virgínia, a brilhante protagonista de Vera Holtz que, compelida ao cuidado de uma debilitada mãe (Vera Valdez), ressente-se da tarefa antes incumbida pelas irmãs Vanda (Arlete Salles) e Valquíria (Louise Cardoso) e decide, em meio à reunião familiar da 1ª efeméride do tipo após a morte do patriarca, aplacar mágoas entre a revisitação da própria trajetória. Então solteira e sem filhos, Virgínia seria deslocada de sua vida, junto aos sonhos de uma carreira de atriz interrompidos e a uma individualidade sempre vilipendiada. Os jogos de sombras e uma expressiva profundidade de campo recriam certa claustrofobia emocional pelo encerramento de perspectivas além-clausura — em especial, de memórias — e posicionam a pessoa espectadora enquanto outro dos agentes narrativos em cena, dada a abertura ao acionamento de vivências extratela.

Bergmaniana, a cena de abertura talvez infira o desejo de retomada da agência via controle ou (re)ajuste do tempo às expectativas de retorno ao que a personagem principal considera ser o viver, aliás, refletido nas cores vibrantes do vestido de formatura usado no jantar da ceia natalina. Não menos importantes, no embalo de uma trilha sonora pontual e climática, Vanda e Valquíria, igualmente envoltas em seus dramas, equilibram o (sempre) tumultuado lar com a quebra da solidão da irmã entre manipulações, casamentos imperfeitos ou já decaídos, uma descendência claudicante, mágoas nunca sanadas e frustrações por vidas medíocres, considerando-se a sugestão de algumas relações abusivas e/ou também permeadas por categoria diversa de assédios.

Na sequência, da esquerda para a direita, vemos as irmãs Valquíria (Louise Cardoso), Virgínia (Vera Holtz) e Vanda (Arlete Salles). Foto: divulgação/Elo Studios.

Meira oferece-nos um olhar empático sobre as mulheres de sua história e chance única ao público de saudar as próprias. Tia Virgínia é do Brasil e, por isso, faz-se outra das produções a celebrar do cinema nacional diretamente da sala escura.

Vencedor das categorias Melhor Filme (Júri da Crítica); Melhor Atriz (Vera Holtz); Melhor Roteiro (Fabio Meira); Melhor Direção de Arte (Ana Mara Abreu); e Melhor Desenho de Som (Ruben Valdés) do Festival de Gramado 2023, além da Menção Honrosa do Júri para a atriz Vera Valdez, o longa tem audiência obrigatória.

Na imagem, temos Virgínia (Vera Holtz) em preparação para o grande momento daquele Natal em família. Foto: Eduardo Martino e Andrea Testoni/Zuppa Filmes.

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Thainá Campos Seriz
Thainá Campos Seriz

Written by Thainá Campos Seriz

Historiadora (UFF). Pesquisa e revisão de conteúdo no Canal Preto. Escrevo sobre cinema.

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