The Outrun: mergulho às próprias profundezas é estratégia de reconhecimento da humanidade perdida ao adultecer de mulheres em novo coming-of-age de Nora Fingscheidt
Título: The Outrun
Países de origem: Alemanha e Reino Unido (2024)
Duração: 118 minutos
Gênero: drama
Direção: Nora Fingscheidt
Roteiro: Amy Liptrot e Nora Fingscheidt
Argumento: Amy Liptrot, Nora Fingscheidt e Daisy Lewis
História original: Amy Liptrot (2016)
Produção: Sarah Brocklehurst, Dominic Norris, J. Lowden e Saoirse Ronan
Fotografia: Yunus Roy Imer
Montagem: Stephan Bechinger
Música: John Gürtler e Jan Miserre
Desenho de som: Jonathan Schorr e Oscar Stiebitz
Direção de arte: Andy Drummond
Direção de elenco: Kahleen Crawford e Caroline Stewart
Figurino: Grace Snell
Distribuição (EUA): Sony Pictures Classics
Elenco: Saoirse Ronan, Paapa Essiedu, Saskia Reeves, Stephen Dillane, Nabil Elouahabi, Izuka Hoyle, Lauren Lyle
Metáfora identitária, a pertença reivindicada às águas do arquipélago natal feminiza o drama da inconstância de Rona (Saoirse Ronan) à sanção antinatural da fluidez percebida interior. Neste coming-of-age filmado em língua inglesa, Nora Fingscheidt (Transtorno Explosivo) faz de The Outrun (Sony Pictures Classics, 2024) retorno cinematográfico (mais) maduro à jornada da protagonista cuja doença vincula-se ao afogamento de si pela perda da liberdade infantil ante o jovem adultecer. Narrado em vocalizações, o desenraizamento subjetivo estressaria o corpo em ruptura que, desesperada, atravessaria a vida da personagem de Saoirse Ronan em distintos tempos e em sequestro quase definitivo ao fim.
Realizados sob contiguidades visuais, flashbacks e flashforwards alternam-se com digressões narrativas e com inserções imagéticas no estabelecimento da conexão tempo-empática com memórias sublimadas à infância e com perdas familiar-amorosas sofridas em meio ao processo de cura da adicção. Simbólico, o desejo de ingerência climática manifesta o esforço de autocontrole da pulsão de morte semântica, emocional e materialmente genética ao declínio ao vício, guardada a semelhança com a bipolaridade paterna (Stephen Dillane). A mencionar-se o esquema de cores de cenários e de figurinos, os tons em azul e terrosos são indicativos do estado de coisas da queda à depressão, enquanto o filtro verde ora aplicado à imagem assenta a consecução do equilíbrio à identidade reconquistada per se, preservando-se não linear o influxo algo sináptico do refazimento de memórias, enfim, dignificadas.
De excessos, a decupagem em close-ups, em planos-detalhe e em grandes angulares justapõe-se a uma câmera inquieta por escrutinar a decadência físico-psíquica e a claustrofobia do distanciamento interiorizado, conquanto a gradual estabilidade sugerida do cinematógrafo sintetize a paz processada ao alcance da desintoxicação. Dedutível já ao título do longa, a busca compartilhada persegue a subjetividade como estratégia propulsora da segurança de mulheres à escuridão do mergulho nas profundezas dos oceanos internos rumo à superfície. Com os cabelos tingidos ou não a fogo, aprendizado seja reacender-se à chama de bem-viver entre o calor próprio.