Softie: pelo desejo à liberdade, a infância pode ser jornada de revisão a legados
Título original: Petite Nature
País de origem: França (2021)
Duração: 93 minutos
Gênero: drama
Direção: Samuel Theis
Roteiro: Gaëlle Macé e Samuel Theis
Produção: Caroline Bonmarchand
Direção de fotografia: Jacques Girault
Direção de arte: Mila Preli
Trilha sonora: Ulysse Klotz
Montagem: Nicolas Desmaison e Esther Lowe
Distribuição (Brasil): Pandora Filmes
Elenco: Aliocha Reinert, Antonie Reinartz, Melissa Alexa, Ilia Higelin
Parte inspirado em elementos biográficos, Softie (título original: Petite Nature) (Pandora Filmes, 2023) aborda os desafios da infância frente à tomada de consciência do existir no mundo. Aliocha Reinert é Johnny Jung, alguém cujos dez anos refletem a curiosidade pelo conhecimento do mundo e de si mesmo em meio a uma turbulenta convivência familiar e o assombro ante a sobrecarrega já infantil de uma parcela do trabalho de reprodução doméstica dividida com uma mãe (Mélissa Olexa) emocionalmente ausente e abandonada ao cuidado dos filhos. Atento, sensível e sagaz, o menino (sobre)vive entre perspectivas de presente e de futuro reduzidas até conhecer o recém-chegado professor Sr. Adamski (Antonie Reinartz), de quem se aproxima em busca de reconhecimento, de atenção e de afeto.
A profundidade de campo em geral aumentada de cada quadro reforçaria a quase impenetrabilidade do lar a que o público espectador é segregado da visão ainda mais íntima das personagens em cena, não fossem outros incontáveis primeiríssimos planos a destacar o caráter igualmente partícipe da audiência no desabrochar da incompreendida potência de Johnny às suas e aos seus, incluindo-se o da sexualidade. Sucumbido a traumas e à luta diária por subsistir contra fantasmas individuais, o amor de genitora e prole esvai-se diante das adversidades do cotidiano em união. Porque sufocado por ambiente, por sonhos e por desejos comprimidos, o protagonista de Reinert dança freneticamente ao basta de liberdade à última ferida, entretanto, como um grito silencioso ao sono da apatia não despertável das e dos iguais. Intenso, Softie torna-se talvez mais cativante à luz da própria composição em fragmentos selecionados da biografia do diretor Samuel Theis e, por isso, em certa medida, perturbador.
O retorno ao passado torna reconciliadora a jornada de revisão ao próprio legado e de autoperdão a um eu já ido. A quem interessar (re)fazê-la, fica o desejo de boa viagem e por afeto ao futuro-presente daquelas e daqueles que nos tornamos.
Com roteiro de Gaëlle Macé e de Samuel Theis, Petite Nature chega nesta quinta-feira, dia 7/12, aos cinemas brasileiros.