Salão de Baile: This is Ballroom: documentário de Juru e de Vitã inscreve em letras e em cores nacionais a revolução negro-latina que, estadunidense, reflete continuum interatlântico da resistência política LGBTQIAPN+

Thainá Campos Seriz
3 min readDec 4, 2024

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Pôster promocional de “Salão de Baile: This is Ballroom” (Retrato Filmes, 2024), documentário dirigido por Juru e Vitã e roteirizado por Juru, Peterkino e Vitã. Foto: divulgação/Retrato Filmes.

Título: Salão de Baile: This is Ballroom
País de origem: Brasil (2024)
Duração: 94 minutos
Gênero: documentário
Direção: Juru e Vitã
Roteiro: Juru, Peterkino e Vitã
Produção: Luis Carlos de Alencar e Vladimir Seixas
Fotografia: Paula Monte e Suelen Menezes
Montagem: Peterkino
Direção de arte: Gah, Germanetto e Mother Idra Mamba Negra
Trilha sonora: Globalkunt
Som: Pedro Moraes, Priscila Alves, Tomaz Griva Viterbo e Vitor Kruter
Edição de som e mixagem: Thiago Sobral
Distribuição (Brasil): Retrato Filmes

De caráter reparador à ausência a tributar-se histórica na tela grande, Salão de Baile: This is Ballroom (Retrato Filmes, 2024) eleva a ballroom, movimento de expressão plurissecular da intelectualidade negra e latina LGBTQIAPN+ estadunidense organizado nos anos de 1968 e de 1972 como resposta ao alijamento artístico naquela conjuntura nova-iorquina, à fonte e a documento agora não mais inéditos do trabalho audiovisual à brasileira. Em depoimentos, em intervenções e no registro documental alternados à montagem, a dinamicidade atribuída ao cinematógrafo emula a reconstrução de protagonismo sequestrado à história entre o destaque tão múltiplo quanto diverso de cada pessoa agente dos salões carioca e niteroiense. Uma vez explicitados os nexos sociais e psicológicos de tecnologia desvelada reontologizadora da subjetividade e da autoestima em distintos espectros, por três atos, es diretories-corroteiristes Juru e Vitã historicizam a agência de pioneiras na organização do sistema de casas e das categorias performáticas (voguing, old e new way) e não performáticas (face, runway) de apresentações, as disputas internas e a ancestralidade negro-afrodiaspórica, autocentrando o processo teórico-prático de escrutínio ao apelo mainstream contemporâneo em sues principais fazedories.

Síntese da intelectualidade negra, latina e LBTQIAPN+ estadunidense, em Salão de Baile: This is Ballroom (Retrato Filmes, 2024), a cultura de bailes recebe cores nacionais e inscreve a produção brasileira (carioca e niteroiense) como outra das tecnologias afrodiaspóricas gestadas entre as históricas resistências (normativo)dissidentes do continuum atlântico. Foto: Paula Monte.

Escolha propositalmente alongada no tempo narrativo-argumentativo, os tensionamentos oriundos da confluência política de plurais identidades materializam agendas e plataformas que, dissidentes em objetivos, em saberes e em visões ativistas, replicam-se espaços de acúmulo epistêmico e de síntese além-institucional de projetos societários cujas contradições demandam-se humanas na luta pela garantia de existir e de sobreviver singular. Já para o desfecho, o restabelecimento do complexo cultural amefricano (Gonzalez, 1988) aos feitos, às conquistas e à memória balls vincula as bases intelectuais e o legado de Crystal (1930–1982) e de Lottie LaBeija à negritude e, por conseguinte, assenta-as e a instituição criada continuum da resistência antirracismo negra. Em nada devedor a obras fulcrais de temática semelhante (1968; 1990), o documentário acerta por inscrever em português os rostos, as cores, os corpos, as corpas e as vozes nacionais da libertária, pois interatlântica, revolução dançada dos bailes.

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Thainá Campos Seriz
Thainá Campos Seriz

Written by Thainá Campos Seriz

Historiadora (UFF). Pesquisa e revisão de conteúdo no Canal Preto. Escrevo sobre cinema.

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