Robô Selvagem: migrações centralizam debate sobre afetos, pertencimento e bem comum em bela animação de Chris Sanders para o retorno da DreamWorks
Título original: The Wild Robot
País de origem: Estados Unidos (2024)
Duração: 102 minutos
Gênero: animação; drama; ficção científica
Direção e roteiro: Chris Sanders
Obra original: Peter Brown (2016)
Produção: Jeff Hermann
Fotografia: Chris Stover
Montagem: Maria Blee
Música: Kris Bowers
Distribuição (Brasil): Universal Pictures
Elenco: Lupita Nyong’o, Pedro Pascal, Kit Connor, Catherine O’Hara, Bill Nighy, Stephanie Hsu, Mark Hamill, Matt Berry, Ving Rhames
Atualíssimo, Robô Selvagem (título original: The Wild Robot) (Universal Pictures, 2024) reconstrói na forma animada perspectiva então insólita ao debate sobre migrações e desenraizamento territorial no capitalismo tecnoglobalizador. Provocada por um incidente climático, a chegada de Rozzum 7134 (voz de Lupita Nyong’o) à região desabitada ocorre em meio hostil e entre o aprendizado de novas gramáticas com vistas à sobrevivência. Metonímica, a reprogramação de Roz ao léxico e às sociabilidades locais equipara-se com a ruptura identitária e com o trabalho de reontologia do indivíduo a geografias emocionais infamiliares (ver Freud, 1919) no processo diaspórico e, neste sentido, a maternidade do ganso Bico-vivo (vozes de Boone Storme e de Kit Connor) opera tarefa semelhante àquela da pedagogia do cuidado das relações como limítrofe ao desenlace da vida em outro lugar.
Duplo da robô protagonista, a raposa Astuto (voz de Pedro Pascal) faz do nome defesa ao exílio que, comunitário, alija-o à solidão do não pertencimento a todos os grupos. Mesmo óbvia, a moralizante amizade do duo é reafirmativa do valor das diferenças e do poder de esforço coletivo na garantia da dignidade do presente, pois tempo de construção do futuro comum. Perdidos nos interesses das grandes corporações ou nas intempéries micropolíticas da precarização do capital, à similaridade dos laços, os afetos ainda se provam fonte multiépocas de resistência à desesperança e, após seguidos fracassos, o estúdio DreamWorks finalmente retorna à beleza de seu legado cinematográfico com The Wild Robot.