Parece Amor: luto desvela dor silenciosa da transição adolescente de meninas e de mulheres ao jugo patriarcal em longa de estreia de Eliza Hittman
Título original: It Felt Like Love
País de origem: Estados Unidos (2013)
Duração: 83 minutos
Gênero: drama
Direção e roteiro: Eliza Hittman
Produção: Shrihari Sathe, Laura Wagner e Eliza Hittman
Fotografia: Sean Porter
Montagem: Carlos Marques-Marcet e Scott Cummings
Direção de arte: James Boxer
Figurino: Sarah Maiorino
Distribuição: Variance Films
Elenco: Gina Piersanti, Giovanna Salimeni, Ronen Rubinstein, Jesse Cordasco, Nicolas Rosen, Richie Folio, Kevin Anthony Ryan, Case Prime
A juventude é (ou pode ser) experiência aterradora, e Parece Amor (título original: It Felt Like Love, 2013) (Variance Films, 2014) comprova verdadeira a sentença. Elemento natural de sede dos medos humanos, já à abertura do longa-metragem de estreia da diretora Eliza Hittman na realização cinematográfica, o mar afigura-se paisagem emocional ao declínio de Lila (Gina Piersanti) sob o silêncio. Enlutada, a protagonista encontra na amizade com Chiara (Giovanna Salimeni) categoria semelhante de refúgio à dor da precoce perda da mãe e, porque apática, a jovem imerge na fantasia romântico-familiar julgadamente vivida à contraparte para (talvez) retornar à adolescência interrompida.
Predominantes, os planos abertos (objetivos) estabelecem-se ante a dialética constituída à subjetividade do olhar e os enquadramentos quase claustrofóbicos da personagem de Gina Piersanti, pois sínteses da depressiva ambientação criada ao roteiro. Ensaiada, a melancólica saída de Lila ao protagonismo da própria vida concertar-se-ia menos dolorosa, se não esbarrasse nos iguais dilemas experienciados por Chiara à exigência de uma performance sexual adultizante de gênero e a uma misoginia objetificadora qual já perpetrada por jovens pares amorosos, amplificando o típico drama coming-of-age a outra potência. Solitárias, por fim, entre o incapacitante processo de transição adolescente, a trilha sonora como interseccionada à escolha da decupagem potencializa o elemento fóbico (misógino) a notar às canções em momento que se articula de passagem à redução de meninas e de mulheres ao patriarcado (racista). Então eivada de paralelismos visuais, a narrativa faz desvelar estados psicológicos à composição de cenários e de figurinos e antecipa o destino da dupla nos vários leitmotivs inseridos.
Subentendida no esforço da climática rotina coreográfica apresentada, a sororidade efetiva-se necessária à sobrevivência, a despeito de eventuais dissonâncias, enquanto a persecução de tipos ideais femininos ou da chancela à existência alheia assenta-se fatal. Se a empatia com iguais realiza-se a este nível elementar à continuidade feminina, as gentilezas adulta e masculina poderiam ser (melhor) facilitadoras da permanência coletiva. Brutal e silencioso, It Felt Like Love transformou de forma bem-sucedida em imagem solidão e desespero há muito companheiros das mulheridades.