Parece Amor: luto desvela dor silenciosa da transição adolescente de meninas e de mulheres ao jugo patriarcal em longa de estreia de Eliza Hittman

Thainá Campos Seriz
3 min readJun 18, 2024

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Pôster promocional de “Parece Amor” (título original: “It Felt Like Love”, 2013) (Variance Films, 2014), longa com direção e roteiro de Eliza Hittman. Foto: reprodução.

Título original: It Felt Like Love
País de origem: Estados Unidos (2013)
Duração: 83 minutos
Gênero: drama
Direção e roteiro: Eliza Hittman
Produção: Shrihari Sathe, Laura Wagner e Eliza Hittman
Fotografia: Sean Porter
Montagem: Carlos Marques-Marcet e Scott Cummings
Direção de arte: James Boxer
Figurino: Sarah Maiorino
Distribuição: Variance Films
Elenco: Gina Piersanti, Giovanna Salimeni, Ronen Rubinstein, Jesse Cordasco, Nicolas Rosen, Richie Folio, Kevin Anthony Ryan, Case Prime

A juventude é (ou pode ser) experiência aterradora, e Parece Amor (título original: It Felt Like Love, 2013) (Variance Films, 2014) comprova verdadeira a sentença. Elemento natural de sede dos medos humanos, já à abertura do longa-metragem de estreia da diretora Eliza Hittman na realização cinematográfica, o mar afigura-se paisagem emocional ao declínio de Lila (Gina Piersanti) sob o silêncio. Enlutada, a protagonista encontra na amizade com Chiara (Giovanna Salimeni) categoria semelhante de refúgio à dor da precoce perda da mãe e, porque apática, a jovem imerge na fantasia romântico-familiar julgadamente vivida à contraparte para (talvez) retornar à adolescência interrompida.

Paisagem também emocional de Lila (Gina Piersanti), o mar é sede dos medos e dos mistérios profundamente reprimidos da alma desta adolescente que acaba de perder a mãe. Foto: reprodução.

Predominantes, os planos abertos (objetivos) estabelecem-se ante a dialética constituída à subjetividade do olhar e os enquadramentos quase claustrofóbicos da personagem de Gina Piersanti, pois sínteses da depressiva ambientação criada ao roteiro. Ensaiada, a melancólica saída de Lila ao protagonismo da própria vida concertar-se-ia menos dolorosa, se não esbarrasse nos iguais dilemas experienciados por Chiara à exigência de uma performance sexual adultizante de gênero e a uma misoginia objetificadora qual já perpetrada por jovens pares amorosos, amplificando o típico drama coming-of-age a outra potência. Solitárias, por fim, entre o incapacitante processo de transição adolescente, a trilha sonora como interseccionada à escolha da decupagem potencializa o elemento fóbico (misógino) a notar às canções em momento que se articula de passagem à redução de meninas e de mulheres ao patriarcado (racista). Então eivada de paralelismos visuais, a narrativa faz desvelar estados psicológicos à composição de cenários e de figurinos e antecipa o destino da dupla nos vários leitmotivs inseridos.

Subentendida no esforço da climática rotina coreográfica apresentada, a sororidade efetiva-se necessária à sobrevivência, a despeito de eventuais dissonâncias, enquanto a persecução de tipos ideais femininos ou da chancela à existência alheia assenta-se fatal. Se a empatia com iguais realiza-se a este nível elementar à continuidade feminina, as gentilezas adulta e masculina poderiam ser (melhor) facilitadoras da permanência coletiva. Brutal e silencioso, It Felt Like Love transformou de forma bem-sucedida em imagem solidão e desespero há muito companheiros das mulheridades.

Inspirada pelo refúgio oferecido à vida julgdamente dos sonhos da amiga Chiara (Giovanna Salimeni), Lila (Gina Piersanti) arrisca-se em seara ainda desconhecida da adolescência, qual seja, a passagem ao jugo performático da sexualidade patriarcal. Se ascendem, ambas as jovens decaem à ilusão amorosa da misoginia romântica. Fotos: reprodução.

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Thainá Campos Seriz

Historiadora (UFF). Pesquisa e revisão de conteúdo no Canal Preto. Podcaster no ObSessões de Cinema.