Parasita: Bong Joon-ho realiza crítica ao capitalismo estadunidense de imposição da Guerra Fria em balanço histórico contemporâneo das disparidades sociais sul-coreanas

Thainá Campos Seriz
3 min readApr 13, 2024

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Pôster promocional de “Parasita” (título original: “Gisaengchung”; 기생충) (Pandora Filmes, 2019), filme com direção de Bong Joon-ho e roteiro de Bong Joon-ho e de Han Jin-won. Foto: reprodução.

Título original: Gisaengchung; 기생충
País de origem: Coreia do Sul (2019)
Duração: 132 minutos
Gênero: drama; suspense; comédia
Direção: Bong Joon-ho
Roteiro: Han Jin-won e Bong Joon-ho
Produção: Kwak Sin-ae, Moon Yang-kwon, Bong Joon-ho e Jang Young-hwan
Fotografia: Hong Kyung-pyo
Montagem: Yang Jin-mo
Trilha sonora: Jeong Jae-il
Distribuição (Brasil): Pandora Filmes
Elenco: Song Kang-ho, Jang Hye-jin, Choi Woo-shik, Park So-dam, Lee Sun-kyun, Cho Yeo-jeong, Jung Ji-so

Parasita (título original: Gisaengchung; 기생충) (Pandora Filmes, 2019), sabe-se, alcançou feitos históricos e, à adoração febril pretérita, o sucesso do longa vincula-se igualmente à abordagem que Gisaengchung propõe em balanço crítico interno. A menção certa feita ao Paralelo 38º inseriria a narrativa apresentada ao roteiro de Bong Joon-ho e de Han Jin-won na história recente sul-coreana: seu estabelecimento ao fim da 2ª Grande Guerra (1939–1945) e à emancipação ao colonialismo japonês (1910–1945) lançaria a península na denominada Guerra da Coreia (1950–1953) e na disputa por zonas de influência ideológica do pós-1949 (início da Guerra Fria e ano da Revolução Chinesa). A entrada, portanto, do novo país ao sul peninsular na esfera de precedência capitalista estadunidense (1953) e o crescimento econômico seguido aos anos 1970 encontraram no refluxo da onda de prosperidade neoliberal de meados da década de 1990 evento primaz das cisões reencenadas às linhas arquitetônicas como expressão das disparidades societárias quais instauradas ao contexto leste-asiático.

Na imagem (da esquerda para a direita), a família formada por Ki-woo (Choi Woo-shik), Kim Ki-taek (Song Kang-ho), Chung-sook (Jang Hye-jin) e Ki-jung (Park So-dam). Foto: reprodução.

Introduzidas sociopsicologicamente à arquitetura dos cenários, as personagens da família formada por Ki-woo (Choi Woo-shik), Ki-jung (Park So-dam), Kim Ki-taek (Song Kang-ho) e Chung-sook (Jang Hye-jin), dada a disposição do apartamento de residência abaixo do nível do solo, gozam da visão da inferioridade de classe. Neste sentido, ao plano de ascensão social do primogênito, o sonho da riqueza tem metonimizado na pedra recebida do amigo Min (Park Seo-joon) o anseio, em verdade, familiar. Consideradas as escadas elemento não secundário de comunicação do desejo de ascendência ou da vulnerabilidade socioeconômica, o desprezo pela irrelevância e pelo preconceito raciclassista do estamento hegemônico faz atribuir ao retrato do viralatismo e da fetichização sintetizada ao racismo anti-indígena norte-americano aceno ao domínio cultural da superpotência e à inspirada opressão de minorias étnicas em âmbito doméstico. Se a decupagem auxilia, então, a refletir as aspirações à superioridade e/ou à supremacia, o movimento de eixo realizado à câmera estática encerra a perspectiva de um imobilismo quase castista (Wilkerson, 2020) à duração dilatada dos planos, enquanto o foco profundo trabalha para ampliar as discrepâncias verificadas a um e a outro atores na simultaneidade das ações desenroladas em tela.

Provado letal o movimento não sistêmico de alcance da equidade — à morte da irmã, Ki-woo fora atacado com a pedra-símbolo da persecução à prosperidade — , a meritocracia é exposta irrealizável, pois onírica e falaciosa à estrutura de privilégios e de liberalidades do capital. Parasitários são, conclua-se, os agentes das classes dominantes e o esforço de mobilidade insconsciente às tecnologias de hierarquização/de classificação sociais e de subopressão entre grupos — vide as notas de terror, de suspense, de horror e de gore — . O uso múltiplo de distintos gêneros cinematográficos parece instrumentalizado à demonstração reiterada de hegemonia intertextual além-asiática e, por isso, efetiva-se desabonador do capitalismo de imposição, herança histórica. Anti-imperialista ou não, Joon-ho entregou ao mundo obra de excelência incontestável.

Da visão à realidade de classe pela janela ou entre as escadas (sentido descendente), o anseio compartilhado de mobilidade social é o que motiva as ações do ardiloso plano do primogênito (Choi Woo-shik). Foto: reprodução.

Revisto para o Clube do Filme.

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Thainá Campos Seriz
Thainá Campos Seriz

Written by Thainá Campos Seriz

Historiadora (UFF). Pesquisa e revisão de conteúdo no Canal Preto. Escrevo sobre cinema.

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