Para Os Que Ficam: vida e dignidade ainda são produções coletivas
Título: Para Os Que Ficam
País de origem: Brasil
Duração: 75 minutos
Gênero: documentário
Direção e roteiro: Susanna Lira
Argumento e roteiro: Marcia Disitzer
Produção: Susanna Lira e Tito Gomes
Direção de fotografia: Rafael Mazza
Produção executiva: Lívia Nunes
Direção de produção: Gretha Viana
Coordenação de produção: Gabriella Fischer
Artista visual: Paula Costa
Videografismo: Julia Lima
Montagem: Ítalo Rocha
Trilha original: Flavia Tygel
Finalização: Lucas Martinelli
Mixagem: Tiago Picado
Este texto possui conteúdo sensível e, por esta razão, pode conter gatilhos. Caso decida continuar a leitura, faça-a com cuidado. Se se sentir sobreafetada(o) pelas linhas a seguir, acesse www.cvv.org.br ou disque 188 para falar com o Centro de Valorização da Vida (CVV). Permita-se ser acolhida(o) e escutada(o). Não é preciso atravessar o sofrer só.
A convite de Gabriella Fischer e da Modo Operante Produções, conferi Para Os Que Ficam (POQF), documentário da parceria GNT e Modo Operante Produções que estreia no canal nesta segunda-feira (18), após o Papo de Segunda. Com direção de Susanna Lira, argumento de Márcia Disitzer e roteiro de Márcia Disitzer e de Susanna Lira, POQF é guiado por Disitzer em sua série de entrevistas a sobreviventes enlutadas(os), pessoas filhas, pais, irmãs e parceiras afetivas as quais, como ela, conviveram com a perda de amados e de amadas após uma morte autoprovocada, decorrente ou não de processos psicoemocionais/de adicção autodestrutivos. Sem sensacionalizações e com excelentes fotografia, grafismo e montagem, a sensível travessia das emocionadas partilhas de Fernanda Lima da Silva, de Guta Alencar, de Pedro HMC, de Roberto Maia, de Simone de Souza e de Valentina Seabra é articulada pelos comentários da psicóloga, psicopedagoga, Gestalt-terapeuta, suicidologista e também sobrevivente Karina O. Fukumitsu acerca de suicidados e enlutados, no tocante ao sofrimento psíquico, às etapas do luto e ao cuidado posventivo em saúde mental àquelas e àqueles aqui persistentes.
Se o silêncio sobre o suicídio enquanto fato social (Émile Durkheim, 1897) contribui ao endosso de estigmas e dificulta a prevenção, leia-se a chegada de ajuda qualificada a quem precisa, a invisibilização de sobreviventes nega o reconhecimento coletivo do luto e, consequentemente, da dor e do vazio deixados entre tão abrupta perda. Por meio da recostura de memórias e das biografias além-tragédia dos amores idos, concluímos ser a decisão pela própria morte, qual expresso nas palavras de Fukumitsu, ato único e definitivo da humanidade aí agente e que à sociedade cabe a produção de escolhas alternativas ao fim. Da escolha pela vida, ou por outras 24h, como particularmente gosto de situar, depende a promoção da dignidade e do bem-viver, condições, aliás, apenas providas em coletivo.
Seja Para Os Que Ficam abraço e escuta acolhedora a quem, no agora, tenta sobreviver a esta perda. O “E se” é tentativa de racionalização do inefável e, por isso, nada escrutinável a respeito do outro. Promovamos e escolhamos as vidas nossas e dos nossos.