Para Os Que Ficam: vida e dignidade ainda são produções coletivas

Thainá Campos Seriz
4 min readSep 18, 2023

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Imagem de divulgação do documentário “Para Os Que Ficam”, uma produção Modo Operante Produções de GNT. Foto: reprodução.

Título: Para Os Que Ficam
País de origem: Brasil
Duração: 75 minutos
Gênero: documentário
Direção e roteiro: Susanna Lira
Argumento e roteiro: Marcia Disitzer
Produção: Susanna Lira e Tito Gomes
Direção de fotografia: Rafael Mazza
Produção executiva: Lívia Nunes
Direção de produção: Gretha Viana
Coordenação de produção: Gabriella Fischer
Artista visual: Paula Costa
Videografismo: Julia Lima
Montagem: Ítalo Rocha
Trilha original: Flavia Tygel
Finalização: Lucas Martinelli
Mixagem: Tiago Picado

Este texto possui conteúdo sensível e, por esta razão, pode conter gatilhos. Caso decida continuar a leitura, faça-a com cuidado. Se se sentir sobreafetada(o) pelas linhas a seguir, acesse www.cvv.org.br ou disque 188 para falar com o Centro de Valorização da Vida (CVV). Permita-se ser acolhida(o) e escutada(o). Não é preciso atravessar o sofrer só.

A convite de Gabriella Fischer e da Modo Operante Produções, conferi Para Os Que Ficam (POQF), documentário da parceria GNT e Modo Operante Produções que estreia no canal nesta segunda-feira (18), após o Papo de Segunda. Com direção de Susanna Lira, argumento de Márcia Disitzer e roteiro de Márcia Disitzer e de Susanna Lira, POQF é guiado por Disitzer em sua série de entrevistas a sobreviventes enlutadas(os), pessoas filhas, pais, irmãs e parceiras afetivas as quais, como ela, conviveram com a perda de amados e de amadas após uma morte autoprovocada, decorrente ou não de processos psicoemocionais/de adicção autodestrutivos. Sem sensacionalizações e com excelentes fotografia, grafismo e montagem, a sensível travessia das emocionadas partilhas de Fernanda Lima da Silva, de Guta Alencar, de Pedro HMC, de Roberto Maia, de Simone de Souza e de Valentina Seabra é articulada pelos comentários da psicóloga, psicopedagoga, Gestalt-terapeuta, suicidologista e também sobrevivente Karina O. Fukumitsu acerca de suicidados e enlutados, no tocante ao sofrimento psíquico, às etapas do luto e ao cuidado posventivo em saúde mental àquelas e àqueles aqui persistentes.

Na sequência, a partir do alto, à esquerda: Fernanda Lima da Silva e sua mãe, sobreviventes ao suicídio do irmão e do filho Ricardo Lima; Guta Alencar, sobrevivente aos suicídios dos filhos Felipe e Davi; Pedro HMC, sobrevivente ao suicídio do marido Paulo Vaz; Roberto Maia e Simone de Souza, sobreviventes ao sucídio da filha Jéssica; e Valentina Seabra, sobrevivente ao suicídio do pai. Fotos: Clara Eyer.

Se o silêncio sobre o suicídio enquanto fato social (Émile Durkheim, 1897) contribui ao endosso de estigmas e dificulta a prevenção, leia-se a chegada de ajuda qualificada a quem precisa, a invisibilização de sobreviventes nega o reconhecimento coletivo do luto e, consequentemente, da dor e do vazio deixados entre tão abrupta perda. Por meio da recostura de memórias e das biografias além-tragédia dos amores idos, concluímos ser a decisão pela própria morte, qual expresso nas palavras de Fukumitsu, ato único e definitivo da humanidade aí agente e que à sociedade cabe a produção de escolhas alternativas ao fim. Da escolha pela vida, ou por outras 24h, como particularmente gosto de situar, depende a promoção da dignidade e do bem-viver, condições, aliás, apenas providas em coletivo.

A psicóloga, psicopedagoga, Gestalt-terapeuta, suicidologista e também sobrevivente Karina O. Fukumitsu. Foto: Clara Eyer.

Seja Para Os Que Ficam abraço e escuta acolhedora a quem, no agora, tenta sobreviver a esta perda. O “E se” é tentativa de racionalização do inefável e, por isso, nada escrutinável a respeito do outro. Promovamos e escolhamos as vidas nossas e dos nossos.

À esquerda, Guta Alencar e, à direita, Marcia Disitzer. Foto: Clara Eyer.

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Thainá Campos Seriz
Thainá Campos Seriz

Written by Thainá Campos Seriz

Historiadora (UFF). Pesquisa e revisão de conteúdo no Canal Preto. Escrevo sobre cinema.

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