Pérola: o caminho da relação mãe-filho é parceria e história

Thainá Campos Seriz
3 min readSep 27, 2023

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Pôster oficial de “Pérola”, com Drica Moraes e direção de Murilo Benício. Foto: reprodução.

Título original: Pérola
País de origem: Brasil
Duração: 92 minutos
Gênero: comédia; drama
Direção: Murilo Benício
Roteiro: Adriana Falcão, Marcelo Saback e Jô Abdu
Produção: Marcello Ludwig Maia e Murilo Benício
Empresa produtora: República Pureza Filmes
Coprodução: Globo Filmes, RioFilme, Canal Brasil e Telecine
Fotografia: Kika Cunha
Direção de arte: Valéria Costa
Montagem: Tainá Diniz
Trilha sonora: Berna Ceppas
Distribuição: H2O FILMS
Elenco: Drica Moraes, Leonardo Fernandes, Rodolfo Vaz, Valentina Bandeira, Cláudia Missura, Jefferson Schroeder, Lavínia Pannunzio, Marianna Armellini, Gustavo Duque, Louise Cardoso

Mesmo amante do cinema de todas as nacionalidades, excetuando-se aquelas ancestrais, pois não me são estrangeiras, emocionar-me em português/BR ainda é único. Em Pérola, 2º longa-metragem com direção de Murilo Benício e roteiro de Adriana Falcão, de Marcelo Saback e de Jô Abdu adaptado da peça homônima de Mauro Rasi (1949–2003) que estreia nesta quinta-feira (28/9) nos cinemas de todo o país, uma relação mãe-filho é descrita em nuances e complexidades talvez ainda não vistas. A morte de Pérola (Drica Moraes) é a razão do retorno de Mauro (Leonardo Fernandes) a Bauru, sua cidade natal, para, em verdade, reencontrar a si e a própria história. As memórias de uma vida qual as expostas na sobreposição de planos e em imagens gêmeas intertemporais recorda-nos da inexata medida de fazer o caminho de volta sob outra maturidade. Se pela distância de sonhos, de objetivos pessoais e profissionais, de perspectivas sobre a vida e de visões de mundo uma relação materno-filial é capaz de desfazer-se, entre a existência de um amor percebido e sentido, no entanto, o reencontro parece certo.

A mansão com piscina e os quinze metros de entrada foram o espaço nada claustrofóbico do desenrolar das grandes alegrias, das festas e das celebrações etílicas sem motivos de ser de Pérola, de Vado (Rodolfo Vaz), de Elisa (Valentina Bandeira), de Mauro e de tia Norma (Claudia Missura). Claro, nem toda união (ou reunião) é perfeita, mas a vontade em fazê-la única supera, aqui, qualquer adversidade. Nem as brigas e a quase obsessão por duas casinhas nunca cedidas em vida pela mãe fizeram ruir o que da presença precisava permanecer. Quando necessário, as convicções de Pérola a respeito do futuro dos filhos cediam lugar à compreensão e ao acolhimento, embora, por vezes, não expressos em ações ou verbalizados.

À esquerda, a chegada da família à mansão com piscina. Em tela, Pérola (Drica Moraes), Vado (Rodolfo Vaz) e Tia Norma (Claudia Missura). À direita, Pérola (Drica Moraes) e Mauro (Leonardo Fernandes) abraçam-se depois da leitura da maravilha não entedida de outro dos poemas de Mauro. Fotos: Marcinho Nunes.

Admita-se: a compreensão e a disponibilidade não verbais de algumas mães tornam o mundo exterior menos hostil, não obstante sua maneira imperceptível. A imaturidade do momento presente nubla esta percepção que dá lugar, por outro lado, à cumplicidade de pessoas mais compreensivas aos dilemas e às angústias alheios quando adultas. Pedir a negação de uma oportunidade para oferecer espaço ao desenvolvimento pleno das paixões de outrem e à completude de um querer, algo raro, dadas as desigualdades sociorraciais à brasileira, é prova inconteste de amor; a parceria tácita a uma escolha romântica homoafetiva e pela presença ante as dificuldades enfrentadas por quem o mundo julga, também, e a sensível direção de Murilo Benício é o ponto em comum da articulação de tanta potência.

A oportunidade dada pela sala escura ao público brasileiro de conhecer tão luminosa história chega em importante hora para recimentar as memórias e as histórias que valem a pena guardar.

À esquerda, Drica Moraes como Pérola. À direita, Leonardo Fernandes como Mauro. Fotos: Marcinho Nunes.

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Thainá Campos Seriz
Thainá Campos Seriz

Written by Thainá Campos Seriz

Historiadora (UFF). Pesquisa e revisão de conteúdo no Canal Preto. Escrevo sobre cinema.

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