Os Segredos do Universo por Aristóteles e Dante: agora, a juventude latina tem por que se inspirar na realização de si e do mundo ao redor

Thainá Campos Seriz
4 min readNov 29, 2023

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Pôster promocional de “Os Segredos do Universo por Aristóteles e Dante” (título original: “Aristotle and Dante Discover the Secrets of the Universe”), longa com direção e roteiro de Aitch Roberto. Foto: divulgação.

Título original: Aristotle and Dante Discover the Secrets of the Universe
País de origem: Estados Unidos (2022)
Duração: 98 minutos
Gênero: drama
Direção e roteiro: Aitch Alberto
Produção: Lin-Manuel Miranda, Valerie Stadler, Dylan Sellers, Chris Parker, Ben Odell e Eugenio Derbez
Direção de fotografia: Akis Konstantakopoulos
Direção de arte: Denise Hudson
Trilha sonora: Isabella Summers
Montagem: Stefanie Visser e Harry Yoon
Distribuição (Brasil): Imagem Filmes
Elenco: Max Pelayo, Reese Gonzales, Eugenio Derbez, Eva Longoria, Veronica Falcón, Kevin Alejandro

Pessoas de meu círculo íntimo sabem acerca de uma busca particular rumo à sabedoria. Construir-se sábia(o) é, segundo as filosofias africanas, saber-se responsável pelo amparo do presente-futuro das próximas gerações. Com este objetivo em mente, desde já, recorro à guarda de obras artísticas as quais, no mesmo processo, sirvam de referência às e aos mais jovens e curem quem de mim sobreviveu àquela etapa (ainda persistente) da vida. Com imensa alegria, digo que a adaptação do best-seller mundial Aristóteles e Dante descobrem os segredos do Universo (Benjamin Alire Sáenz, 2012) para a grande tela será outra das produções humanas a reservar de inspiração à minha descendência, em especial, masculina enquanto possibilidade de ser e de bem-existir no mundo.

Com direção e roteiro de Aitch Alberto, Os Segredos do Universo por Aristóteles e Dante (título original: Aristotle and Dante Discover the Secrets of the Universe) (Imagem Filmes, 2023) traz o retrato da El Paso (Texas, EUA) de 1987 pelo desenvolvimento das relações interpessoais no lar da família Mendoza, onde o jovem Aristóteles (Max Pelayo) vive, porque envolto no turbilhão de sentimentos próprio da juventude também marcada por uma ausência sentida, porém silenciada, solitário. No entanto, a chegada de Dante Quintana (Reese Gonzales) à vida de Ari ambienta-o, enfim, à jornada em busca do conhecimento de si e dos próprios sonhos no vasto universo da existência aqui e agora. Neste sentido, o contraste da predominância de cores frias entre os cenários e os figurinos do núcleo dos Mendoza com a hegemonia diversa de tons vibrantes do congênere Quintana, combinado, diga-se, a um lindíssimo jogo de luzes e de sombras e a uma excelente decupagem, é o criador do comovente encantamento imagético por que a fotografia de Akis Konstantakopoulos reflete a mencionada dualidade e proporciona ainda mais beleza à narrativa autoral adaptada de Alberto em todos os 98 minutos de duração do longa.

O contraste complementar entre o colorido de Dante (Reese Gonzales) (esquerda) e a sobriedade de Ari (Max Pelayo) (direita) torna Segredos do Universo apaixonante. Fotos: divulgação.

Cativante, a vivacidade de Dante colore não apenas os dias de Ari, como inspira-o a perseguir a sua. Mais importante que o conflito cultural impresso em ambas as personalidades, considerando-se a origem mexicana e o nascimento em território estadunidense, a descoberta de uma sexualidade dissidente — mesmo autonegada, no caso de Aristóteles Mendoza — confronta-os com o mundo e consigo, de um lado, frente à consecução de uma trajetória individual, e de outro, com o enfrentamento às próprias sombras e à solidão, desta vez, permitindo-se a vulnerabilidade pela companhia de iguais na caminhada da vida. As estelares atuações de Pelayo e de Gonzales retornam-nos a jornadas semelhantes e são capazes de, no presente balanço, saudar as frustrações, os lutos e as vitórias os quais as adultas e os adultos como nós ainda amargam e/ou desfrutam, quando passado e presente fundem-se na ilusão ou na concretude do futuro construído a duras penas. Se os levantes e a luta ativistas contra a Aids e o HIV de 1987 e a presença de Tia Ophelia (Marlene Forte) afiançam-se condições históricas e pessoal-familiares inspiradoras ao desabrochar do jovem Mendoza, as coadjuvâncjas de Liliana (Veronica Falcón) e de Jaime Mendoza (Eugenio Derbez) são fundamentais, porquanto exemplares ao acolhimento e igualmente transformadas pelo avançar do filho ante a vida e ante o amor a Dante.

Por fim, o protagonismo latino em história também latina encerra a aproximação final com o público brasileiro, pois de universos culturais comuns e não reduzida ao drama migratório. Entre constelações e o luar do mesmo continente, os segredos são antes mistérios constituintes do existir neste lado do mundo, pois também direito à dignidade. Os Segredos do Universo é, agora, referência aos nossos meninos e jovens sobre o amar iguais e alento ao reexistir quem se é na beleza de suas singularidades e de seus amores vários. Os Segredos do Universo precisa ser exemplo a pais e a mães no acolher das subjetividades de rebentos e de rebentas. Já que posso guardá-lo para a minha descendência, pois eternizado em imagem, levo o novo longa perto do peito, porque realização do universo que sonho e quero ajudar a construir em cura à jovem ferida outrora pelo mundo.

Apenas viver a própria verdade e de seus sentimentos poderá redimir uma existência. Tenhamos coragem de acolhê-los. Nesta ordem, à esquerda, Dante (Reese Gonzales), e à direita, Ari (Max Pelayo). Foto: divulgação.

Estreia da edição de 2022 do Festival Internacional de Cinema de Toronto, Aristotle and Dante Discover the Secrets of the Universe chega nesta quinta-feira, dia 30/11, aos cinemas do país.

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Thainá Campos Seriz
Thainá Campos Seriz

Written by Thainá Campos Seriz

Historiadora (UFF). Pesquisa e revisão de conteúdo no Canal Preto. Escrevo sobre cinema.

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