Os Filhos dos Outros: o cuidado das relações também precisa ser dos homens
Título original: Les Enfants des Autres
País de origem: França
Duração: 103 minutos
Gênero: drama
Direção e roteiro: Rebecca Zlotowski
Produção: Frédéric Jouve
Produção executiva: James Benjamin Shannon
Produção associada: Marie Lecoq
Direção de fotografia: Georges Lechaptois
Trilha sonora: Robin Coudert
Montagem: Géraldine Mangenot
Montagem de som: Thomas Desjonqueres
Mixagem de som: Jean-Paul Hurier
Empresa produtora: Les Films Velvet
Coprodução: France 3 Cinéma
Distribuição (Brasil): Synapse Distribution
Elenco: Virginie Efira, Roschdy Zem, Callie Ferreira-Goncalves, Chiara Mastroianni, Yamée Couture, Michel Zlotowski, Henri-Noël Tabary, Victor Lefebvre
Enfim, uma abordagem adulta a este tema. Não à toa, tem direção e roteiro de mulher. Indicado ao Leão de Ouro na edição de 2022 do Festival de Cinema de Veneza, Os Filhos dos Outros (título original: Les Enfants des Autres) (Synapse Distribution, 2023), dirigido e roteirizado por Rebecca Zlotowski, traz Virginie Efira como Rachel Friedmann, uma diligente professora secundária enamorada já no início do longa por Ali Benatia (Roschdy Zem), um colega das lições em grupo de violão. Rachel, à medida em que adentra a vida e o lar de Ali, percebe a delicada presença/existência de Leila (Callie Ferreira-Goncalves), a pequena filha do agora namorado, fruto de relacionamento anterior. Entre encontros e desencontros, estranhamento e familiaridade, Rachel aproxima-se maternalmente de Leila e, com ela, passa a viver o desejo de gestar uma vida. No entanto, a chegada à meia idade (e o temor da menopausa), a gravidez da irmã caçula Louana (Yamée Couture), o fim da relação amorosa com Ali e o quase compulsório desfazer de laços com Leila constituem-se elementos para a reflexão da protagonista a respeito das próprias trajetórias pessoal e profissional.
Nem as escolhas óbvias de decupagem, de elipses e de alguns rack focuses frequentemente usuais aos objetivos de uma comédia dramática e/ou de um romance fizeram esmaecer a maturidade da discussão incisivamente colocada acerca do impacto da separação parental sobre filhos e filhas de precedente união, da (ir)responsabilidade emocional a envolver a introdução descuidada ou não de pessoa estranha ao convívio familiar entre o cotidiano também afetivo de crianças e de adolescentes e de seu abrupto rompimento, uma vez encerrada a presente relação. Compreensível ou não a escolha feita por Ali referente ao retorno ao casamento com Alice (Chiara Mastroianni), mãe de Leila, fato latente é certa liberdade masculina quanto ao fazer e ao desfazer, à revelia, de relacionamentos quaisquer, sem, contudo, responsabilizar-se igualmente por reparar respectivos efeitos. Se a criação de vínculos com crianças que não as já pertencentes a uma convivência imediata, em especial, as filhas de parceiras e de parceiras amorosos, parece difícil, rompê-los depois de consolidá-los (a duras penas) talvez seja ainda mais doloroso. Por isso, cuidado, empatia, compromisso e responsabilização são condições exigíveis ao desenrolar menos traumático de um processo incontornável qual um fim pode ser, e é.
Com um ciclo ou não encerrado, com o amor ou não findo — ciclo e amor findos devem estar disponíveis a todas e a todos envolvidos, pois direito — , escusas de mulheres ao (de)feitos de homens não cabem mais. Enseje Os Filhos dos Outros consenso definitivo acerca de uma tomada adulta de responsabilidade pelo cuidado de homens e pelo fim à geração desnecessária de sofrimento a quem se diz amar.
Les Enfants des Autres estreia nesta quinta-feira, dia 5/10, nos cinemas brasileiros.