Oeste Outra Vez: leitura de gênero à brasileira escrutina masculinismos e identidade em longa informativo de Erico Rassi sobre a história de fundação nacional

Thainá Campos Seriz
2 min readNov 19, 2024

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Pôster promocional de “Oeste Outra Vez” (O2 Play, 2024), longa dirigido e roteirizado por Erico Rassi vencedor do 52ª edição do Festival de Cinema de Gramado (RS). Foto: reprodução.

Título: Oeste Outra Vez
País de origem: Brasil (2024)
Duração: 97 minutos
Gênero: faroeste; drama
Direção e roteiro: Erico Rassi
Produção: Cristiane Miotto e Lidiana Reis
Fotografia: André Carvalheira
Montagem: Leopoldo Joe Nakata
Direção de arte: Carol Tanajura
Música: Guilherme Garbato
Desenho de som: Ricardo Reis
Distribuição (Brasil): O2 Play
Elenco: Ângelo Antônio, Rodger Rogério, Antônio Pitanga, Babu Santana, Adanilo, Daniel Porpino, Tuanny Araújo

Considere-se kubrickiana a binária linha colorimétrica organizada por Oeste Outra Vez (O2 Play, 2024) em tela. Neste sentido clássica, a marca da violência operada nos filmes do realizador estadunidense (1927–1999) compõe-se com a queda psíquica à fragilidade, entretanto, não assumida do descontrole às emoções, pois assim emasculadora. No caso do filme de Erico Rassi, respectivamente, a paleta em vermelho e em verde complementariza a fotografia que, terrosa, situa a narrativa em território goiano e faz dos planos abertos sede da batalha frontal pela irrelevância entre a escolha por gênero (cinematográfico) investigativo das masculinidades à brasileira.

Adversários pelo amor de sua parceira romântica, Totó (Ângelo Antônio) e Durval (Babu Santana) protagonizam batalha pelo triunfo inconteste das próprias virilidades sobre o destino da mulher que dizem amar. A contenda estabelecida, diga-se, parece provar conhecimento contrário. Foto: reprodução.

À desilusão amorosa, Totó (Ângelo Antônio) sucumbe ao medo da eterna solidão e, como vingança, orquestra a morte de Durval (Babu Santana), adversário na disputa pelo par romântico perdido. Quase fantasmagórica, a presença da então amada coincide com sua saída de cena para o desenlace da contenda cujo atributo pioneiro seria o de opor o triunfo pró-supremacia das virilidades à farsa decadente da própria impotência. O estatismo da vida no lugar de vazios geográficos e de desertos subjetivos refletido à câmera faz da incomunicabilidade tragédia coletiva, pois signo da hecatombe ao assassínio das gentes. Na sujidade de gênero depositada à frente dos banheiros no bar, por fim, o lixo emocional masculinista acumula-se aos silêncios, à recusa ao trabalho sobre si (Foucault, 1994) e às ausências, sendo o ódio (misógino e alterocida) expressão partilhada do desprezo aprendido identitário.

À semelhança da terra de oportunidades ao genocídio originário do país norte-americano, o Oeste nacional constitui espelho desmistificador da razia às diferenças e à autonomia de corpos e de mentes fundante da história do Brasil enquanto unidade. Feito único, o destino repete-se implacável, e sob a inevitabilidade consentida, querem os homens, exterminar-se-ão todos.

Rumo ao Oeste selvagem das próprias emoções e da vulnerabilidade sublimadas, conclui Erico Rassi, os homens do país sucumbem moralmente a si mesmos por afã quase manifesto à supremacia de seus destinos sobre outrem — por “outrem”, entenda-se maiorias minorizadas e as outras gentes brasileiras. Foto: reprodução.

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Thainá Campos Seriz
Thainá Campos Seriz

Written by Thainá Campos Seriz

Historiadora (UFF). Pesquisa e revisão de conteúdo no Canal Preto. Escrevo sobre cinema.

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