O Menino e a Garça: contar histórias é o futuro entre gerações a imaginar ante a finitude da vida
Título original: Kimitachi wa Dou Ikiru ka
País de origem: Japão (2023)
Duração: 124 minutos
Gênero: fantasia; animação
Direção e roteiro: Hayao Miyazaki
História original: Genzaburo Yoshino (1937)
Produção: Toshio Suzuki
Direção de fotografia: Atsushi Okui
Trilha sonora: Joe Hisaishi
Montagem: Takeshi Seyama
Distribuição (Brasil): Sato Company
Elenco: Soma Santoki, Masaki Suda, Ko Shibasaki, Aimyon, Yoshino Kimura, Takuya Kimura, Kaoru Kobayashi, Shinobu Otake
No fim, o retorno ao início. Baseado no romance homônimo de 1937 de autoria de Genzaburō Yoshino (1899–1981) (Kimitachi wa Dō Ikiru ka, ou 君たちはどう生きるか), O Menino e a Garça (título em inglês: The Boy and the Heron, 2023) (Sato Company, 2024) adiciona nota biográfica melancólica ao tratamento temático da consagrada filmografia em animação de Hayao Miyazaki (1941), não obstante a reafirmação da urgência do trabalho consigo (Foucault, 1985) em prol da continuidade, porquanto devir ancestral.
No enredo, o jovem Mahito Maki (Soma Santoki) perde a amada mãe em meio ao incêndio a um hospital durante o esforço de guerra japonês (1939–1945). Após o primeiro ano daquela trágica morte, o pai Shoichi (Takuya Kimura) conduz o adolescente à mansão da família na zona rural de Tóquio, apresentando-o na ocasião a Natsuko (Yoshino Kimura), a nova madrasta. A chegada ao local de genitor e de prole é acompanhada por uma sequência de inusitados eventos, a citar-se, por exemplo, a recepção por uma garça-real (Masaki Suda). Mahito ainda enfrenta solitariamente o luto, não sem resistir à tentativa de aproximação da agora companheira de S. Maki. Provocado à ave falante sobre a genitora, que estaria viva, e seguido o desaparecimento de Natsuko, o garoto vê-se levado a uma torre cujo portal fá-lo-ia adentrar um mundo onde mortos e vivos restabeleceriam a convivência.
Frente à inevitabilidade da morte e das despedidas, a fantasia proposta compõe a alegoria de interiorização das memórias como parte da busca pelo (re)encontro com as relações fundamentais per se e, por isso, em essência, com as subjetividades reontologizadas à história coletiva. A persecução à ancestralidade enfim refletida no contato com a criança Himi (Aimyon)/a vindoura Hisako e com o tio-avô (Shōhei Hino) assenta enquanto contínuas a trajetória individual-familiar-nacional e a permanência do nome no movimento mesmo ininterrupto de existir e de realizar entre gerações. A pedra canônica a destruir ou a reconstruir multiversos constitui, portanto, a tarefa a fazer-se persistir à finitude da vida.
Reconhecendo-se finito, Miyazaki processa-nos o próprio extinguir à consecução do futuro desta e de novas histórias. The Boy and the Heron é o terno pedido de futuro a forjar ante o fantástico das realidades, qual uma vez eternizadas à obra do findo artista.