O Dia Que Te Conheci: amor rompe entorpecimento dos dias e queda à atonia do não lugar em doce comédia romântica de André Novais Oliveira
Título: O Dia Que Te Conheci
País de origem: Brasil (2024)
Duração: 71 minutos
Gênero: drama; comédia
Direção e roteiro: André Novais Oliveira
Produção: Thiago Macêdo Correia e André Novais Oliveira
Fotografia: Ronaldo Dimer
Direção de arte: Esther Az
Distribuição: Malute Filmes
Elenco: Grace Passô, Renato Novaes, Kelly Crifer, Fabrício FBC
Das sutilezas a ainda permear o cotidiano, o amor torna-se possibilidade sobretudo arrebatadora. Percebê-lo, entretanto, requer de espectadores inertes vontade outra à liquidez (ver sentido de Bauman, 2003) imposta como valor aos afetos. Se lenta é a feitura da realidade, quando não estática, a câmera desloca-se vagarosa ao movimento também entorpecido dos dias iniciados por Zeca (Renato Novaes) — ou seria por nós? — em O Dia Que Te Conheci (2023) (Malute Filmes, 2024), longa dirigido e roteirizado por André Novais Oliveira.
À luz natural, o contraste com a escuridão do quarto-abrigo da personagem de Renato Novaes combina-se ao predomínio dos tons em azul de cenários e de figurinos para a ambientação do depressivo mundo do protagonista. Prolongado além do início das manhãs pelo uso (prescrito) de medicamentos, o sono do bibliotecário emula a permanência entre a solidão e a atonia da presença no próprio lugar, pois neste tempo. A orientação da travessia diária de atrasos rumo ao trabalho (direita-esquerda) segue a descida rumo ao quase imutável destino da sobrevivência institucional despersonalizada de desejos e dos anseios de pertença comunitária, todavia, vocalizados à trilha sonora. Quando material, o distanciamento dos sonhos impõe-se, enfim, à secessão de muros, à ignorância da história e à partilha nunca comum (a distintos grupos) de perspectivas sobre o futuro.
Sempre ampliada, a profundidade de campo reprodutora da distante aproximação de dramas então não confessados dissolve-se ante o encontro com Luísa (Grace Passô), ao que a agora adoção de primeiríssimos planos sugere o reconhecimento das angústias e das dificuldades outrora sentidas por uma igual. Latente, pois atmosférica, a tensão estabelecida cede à cumplicidade forjada e culmina-se sexual na rara visualidade de um duplo protagonismo (negro e gordo) na tela grande. Desperto ao céu claro de seu alvorecer, o ex-educador afiança disposição reiluminada à vida na novidade mesma de amar, e à promessa da farta refeição de ser amado, é preciso dizê-lo, certeza tem-se da imagem de horizonte mais colorido à dignidade de viver.