O Conde de Monte Cristo: nova adaptação de clássico literário realiza-se exercício ufanista de obra francófona reassentada não inglesa (2002) em novo longa de Alexandre de La Patellière e de Matthieu Delaporte
Título original: Le Comte de Monte-Cristo
País de origem: França (2024)
Duração: 178 minutos
Gênero: drama; aventura
Direção e roteiro: Alexandre de La Patellière e Matthieu Delaporte
Obra original: Alexandre Dumas e Auguste Maquet (1844–6)
Produção: Dimitri Rassam
Fotografia: Nicolás Bolduc
Montagem: Célia Lafitedupont
Música: Jérôme Rebotier
Direção de arte: Stéphane Taillasson
Figurino: Thierry Delettre
Distribuição (Brasil): Paris Filmes
Elenco: Pierre Niney, Bastien Bouillon, Anaïs Demoustier, Anamaria Vartolomei, Laurent Lafitte, Patrick Mille, Pierfrancesco Favino
Nova adaptação cinematográfica do clássico (1844–6) de autoria Alexandre Dumas, pai (1802–70) e de Auguste Maquet (1813–88), O Conde de Monte Cristo (título original: Le Comte de Monte-Cristo) (Paris Filmes, 2024) tem o magnetismo das letras dumasianas restaurado neste que é um deslumbrante retorno ao idioma de seu nascimento empreendido pela dupla de diretores Alexandre de La Patellière e Matthieu Delaporte (Os Três Mosqueteiros). Tributária ao caráter folhetinesco da obra pioneira, a divisão de atos em cinco capítulos segue quase fielmente a história da vingança de Edmond Dantès (Pierre Niney) contra Fernand Mondego, Conde de Morcerf (Bastien Bouillon), Gérard de Villefort (Laurent Lafitte) e o Barão Danglars (Patrick Mille), personagens cuja metonímia captura a crítica ao sequestro da Justiça, pois do Estado francês, à burocracia e à corrupção de agentes público-privados ante os interesses do capital entre a queda do Primeiro Império napoleônico (1804–15) e o restabelecimento da monarquia sob a dinastia Bourbon (1589–1848). Vibrante, o esquema colorimétrico parece antes emular o orgulho em refazer de facto francesa a nova visita a folhetim dos mais celebrados do país e, para tal fim, fotografia, figurinos e direção de arte bem se excedem em ambientar o público ao legítimo cenário oitocentista de já conhecidos eventos.
A despeito de processo transpositivo acurado, parte das elipses narrativas operada suprime o desenrolar de elementos relevantes à compreensão de selecionadas subtramas — a exemplo do período de trocas e da amizade com o abade Faria (Pierfrancesco Favino) — , mesmo se e quando recuperados via flashbacks. Em outra vaga, a decupagem e os jogos de luzes e de câmeras terminam superados em obviedade por uma trilha sonora compelidora de emoções em contexto imagético, todavia, vazio em ação. Se a releitura filmográfica do volume de 1844–6 em 2024 faria esperar novos sentidos também visuais de interpretação daquele conjunto literário, Le Comte de Monte-Cristo conclui-se exercício tão só de reassenhoreamento francófono de palavra inglesa não mais final sobre altivez ufanista.