O Clube das Mulheres de Negócios: crítica pertinente ao patriarcado brasileiro dispensa interseccionalidade para o caráter sistêmico das opressões nacionais além-gênero em novo longa de Anna Muylaert
Título: O Clube das Mulheres de Negócios
País de origem: Brasil (2024)
Duração: 95 minutos
Gênero: comédia; drama
Direção e roteiro: Anna Muylaert
Colaboração de roteiro: Gabriel Domingues e Suzana Pires
Produção: Mayra Lucas e Anna Muylaert
Fotografia: Bárbara Alvarez
Montagem: Karen Harley e Marina Kosa
Direção de arte: Juliana Ribeiro
Música original: André Abujamra e Mateus Alves
Som direto: Ruben Valdez
Supervisão de edição sonora: Miriam Biderman e Ricardo Reis
Mixagem de som: Ricardo Reis
Figurino: Diogo Costa
Caracterização: Westerley Dornellas
Distribuição: Vitrine Filmes
Elenco: Cristina Pereira, Irene Ravache, Louise Cardoso, Katiuscia Canoro, Grace Gianoukas, Polly Marinho, Helena Albergaria, Shirley Cruz, Ítala Nandi, Maria Bopp, Verônica Debom, Rafael Vitti, Luis Miranda, André Abujamra, Fernando Billi, Tales Ordakji, Nani de Oliveira Clodd Dias
Inteligente, o esforço aglutinador dos melhores exemplares pressuposto à ideia de elite e de (re)união clubista é fulcral à ironia de Anna Muylaert em O Clube das Mulheres de Negócios (Vitrine Filmes, 2024), já que as alegorias mobilizadas intencionam desconstruir a noção de excelência consagrada ao vocábulo. O cuidado do seleto grupo por Brasília (Louise Cardoso) sugere a pertença nacional dos metonímicos espécimes avistados, pois sínteses nada apócrifas das principais forças políticas hoje em disputa no Planalto Central. Weberiana, a baixa fantasia da conjunção de representantes do agronegócio latifundiário (Grace Gianoukas), do fascismo nacionalista cristão (Shirley Cruz e Katiuscia Canoro), da influência midiática de redes (Priscila Marinho), do Judiciário (Helena Albergaria) e das classes média e aristocrática/de raiz escravocrata (Ittala Nandi, Cristina Pereira e Irene Ravache) em paradisíaco cenário é frontal em desvelar seu isolamento ante as gentes da terra presentificadas ao som de atabaques e à fauna nativa.
Às presenças negra e indígena, o atraso impõe-se em sequestro à natureza originária da replicação da vida no lugar-Brasil, a exemplo da cadeira pavão de vime apropriada por Cesária (Cristina Pereira) — signo do ativismo preto — , quando levante derradeiro ergue-se em confronto a histórico poder. O catártico banho de sangue visto em tela parece realizar chance revolucionária iminente à escolha consecutiva da persistência de violações às classes dominantes e, a despeito de potência causal intrínseca, a leitura partilhada sofre com vagas reducionistas pouco informadoras de outra materialidade da mesma formação societária do país. Como operada, a mímese ignora a reprodução de violências entre grupos pelo acúmulo interseccional de marcadores sociais da diferença em nome de uma pretensa universalidade das tecnologias de controle do masculinismo misógino enquanto ainda incorre no trabalho reificador dos tipos sinonimificados.
Perigosos, tais vínculos desconsideram idiossincrasias genéticas a parte dos segmentos destacados — a saber, o imbricamento de mulheres negras com a cristandade evangélica e com a sub-representação em cargos decisórios ou de liderança — e negligenciam o caráter relacional, senão sistêmico, das opressões desveladas. Abusos e constrangimentos mantêm preservada a origem coercitiva ou pró-dominação, não obstante mentores e executores, sendo apenas revitimizadora a empatia sensacionalisticamente estilizada. Melhor convocação a ímpeto sublevador segue o emprego de pedagogia comum, e reconhecer o nexo além-gênero da colonialidade à brasileira é avançar sobre aparato emancipatório já produzido a múltiplas resistências contra-hegemônicas.