O Brutalista: apologia a pedantismo julgado brilhante transforma épico de Brady Corbet em propaganda sionista constrangedora

Thainá Campos Seriz
2 min readFeb 20, 2025

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Pôster promocional de “O Brutalista” (título original: “The Brutalist”, 2024) (Universal Pictures, 2025), longa dirigido por Brady Corbet e roteirizado por Mona Fastvold e por Brady Corbet indicado a dez Oscars (Melhor Filme, Melhor Direção, Melhor Ator, Melhor Atriz Coadjuvante, Melhor Ator Coadjuvante, Melhor Fotografia, Melhor Montagem, Melhor Direção de Arte, Melhor Trilha Sonora Original e Melhor Figurino). Foto: reprodução.

Título original: The Brutalist
Países de origem: Estados Unidos, Reino Unido e Hungria (2024)
Duração: 215 minutos
Gênero: drama histórico; épico
Direção: Brady Corbet
Roteiro: Mona Fastvold e Brady Corbet
Produção: Trevor Matthews, Nick Gordon, Brian Young, Andrew Morrison, Andrew Lauren, D.J. Gugenheim e Brady Corbet
Fotografia: Lol Crawley
Montagem: Dávid Jancsó
Direção de arte: Judy Becker
Música: Daniel Blumberg
Figurino: Kate Forbes
Distribuição (Brasil): Universal Pictures
Elenco: Adrien Brody, Felicity Jones, Guy Pearce, Joe Alwyn, Raffey Cassidy, Stacy Martin, Emma Laird, Isaach de Bankolé, Alessandro Nivola

O Brutalista (título original: The Brutalist, 2024) (Universal Pictures, 2025) é contumaz na operação de desvelamento da farsa americana ao também emular grandiloquente o destino de vocação inventada mitologia. A caricatura construída por Guy Pearce para Harrison Van Buren é nevrálgica em declarar medíocre uma branquidade acreditada brilhante no vazio epistemológico de humanismo supremacista, porém. Crítico, o roteiro de Brady Corbet e de Mona Fastvold é enfático em comentar o desprezo à psicologia social de autodepreciação que, fundante ao país, outrifica o próprio horror à irrelevância de si no sequestro predatório das potencialidades de maiorias racialisticamente minorizadas como diferenças.

Orgulhoso de seu brilhantismo, László Tóth (Adrien Brody) faz do projeto encomendado pelo magnata Harrison Van Buren (Guy Pearce) a obra de uma vida e, enquanto decai à obsessão do empreendimento inacabado, a farsa do sonho americano encontra no pedantismo de seu protagonista reflexo tanto de particulares quanto de coletivas arrogâncias sobre a compreensão do próprio papel histórico. Fotos: reprodução.

Decerto não intencionada, contudo, a baixeza daquela rasa personalidade espelharia reflexo de projeção talvez não advertida. László Tóth (Adrien Brody) parece creditar o reconhecimento de seu brilhantismo à culpa a querer provocar por trauma histórico não evitado e, porque pedante, ressente-se em não vê-lo celebrado pela burguesia capitalista estadunidense. Além de desprezar enquanto intelectuais as contribuições de experiências migrantes outras — recorde-se dos casos indígena e negro-africano — à formação nacional, a excepcionalidade indulgente de Corbet — Tóth é-lhe alter ego — transforma a simples autonomia do exercício criativo em direito territorial a uma manifesta grandeza outrora negado e, por isso mesmo, em propaganda sionista. Se as rígidas linhas da brutal arquitetura tóthiana expressam sensibilidade cuja fruição tenta reparar dores e deseja-se autodeterminada por legítimas pretensões, o chamado constante a elogio sempre apologético torna constrangida, e não genuína, qualquer merecida reverência.

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Thainá Campos Seriz
Thainá Campos Seriz

Written by Thainá Campos Seriz

Historiadora (UFF). Pesquisa e revisão de conteúdo no Canal Preto. Escrevo sobre cinema.

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