Nosso Sonho: a cinebiografia da dupla cuja trajetória pôde contar com o sonho e o amor realizados

Thainá Campos Seriz
4 min readSep 20, 2023

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Pôster oficial de “Nosso Sonho”, cinebiografia da dupla Claudinho (1977–2002) e Buchecha. Foto: reprodução.

Título: Nosso Sonho — A História de Claudinho e Buchecha
País de origem: Brasil
Duração: 120 minutos
Gênero: biografia; ficção
Direção: Eduardo Albergaria
Argumento: Fernando Velasco
Roteiro: Eduardo Albergaria, Daniel Dias, Mauricio Lissovsky e Fernando Velasco
Assistência de direção: Junior Vieira
Produção: Leonardo Edde
Direção de fotografia: João Atala
Produção executiva: Tarcila Jacob e Leonardo Edde
Músicas: Claudinho e Buchecha
Trilha sonora: Plínio Profeta
Produção musical: Buchecha & Atabaque
Montagem: Eduardo Albergaria e Waldir Xavier
Produção: URCA FILMES
Distribuição: MANEQUIM FILMES
Coprodução: Telecine, Warner e RioFilme
Elenco: Juan Paiva, Lucas Penteado, Tatiana Tiburcio, Nando Cunha, Lellê, Clara Moneke, Antônio Pitanga

Surpresa, mas não tanto, com a demora de termos uma cinebiografia como Nosso Sonho (Manequim Filmes, 2023) nas grandes telas. A direção de Eduardo Albergaria para o roteiro de Daniel Dias, de Eduardo Albergaria, de Fernando Velasco, também autor do argumento, e de Mauricio Lissovsky, enfim, sanou esta ausência e brindou-nos, mesmo após 21 anos da partida de Claudinho (nascido Cláudio Rodrigues de Mattos, 1977–2002), com a história por trás do sucesso da dupla tornada finalmente cinema — da amizade iniciada em Boaçu, São Gonçalo (RJ) ao contexto de composição dos grandes hits — . A atuação cativante de Lucas Penteado como Claudinho é o porto seguro de construção da trajetória que é, sem dúvida, a de maior expressão da cena funk carioca, e do funk melody, de meados da década de 1990, desde a consolidação do gênero (1977–8), com a Black Rio. Juan Paiva, por sua vez, encanta como o doce Buchecha (nascido Claucirlei Jovêncio de Souza, 1975), centro nervoso e condutor do enredo, a partir da narração em voice over. Além de memória, o longa é sobre o feito de homens negros cujas história, ascensão e vida não sucumbiram ao genocídio do Estado e elevaram uma coletividade, como tem sido, em verdade, a história do povo negro na diáspora brasileira. Além de memória, o longa é sobre um sonho não terminado pelas externalidades tanto fluminense quanto brasileira.

Claudinho (Lucas Penteado), à esquerda, e Beto/Buchecha (Juan Paiva), à direita, sonham em ser MCs. Pouco depois, o sonho viraria realidade. Foto: Angelica Goudinho.

Não obstante realidade socioeconômica adversa naquela São Gonçalo, a vontade dos faixas Claudinho e Beto/Buchecha de ser artistas, ou tão só a de fazer dançar um baile, levou-os ao topo com seu talento, quando oportunidade houve. O retrato do querer amar de jovens negros e, claro, do próprio lugar marca com certo ineditismo o cancioneiro do funk, como MC Marcinho (nascido Márcio André Nepomuceno Garcia, 1977–2023) também fá-lo-ia pouco depois, e mostra o desejo pela vida e por viver a quem não era/é permitida vida longa. A tragédia dos homens negros brasileiros aparece assinalada em Souza/Buchechão (Nando Cunha), artista não realizado e de quem a frustração quase destruiu a si e a relação com o filho Beto/Buchecha, e na partida precoce de Claudinho (13/7/2002), aos 26 anos, em um acidente de carro.

A primorosa direção de arte ambientou-nos com perfeição aos anos 1980–2000, qual a bela fotografia de João Atala e a precisa, sensível montagem de Eduardo Albergaria e de Waldir Xavier. Afinadas com a narração de Juan Paiva, fotografia e montagem recriaram o sonho construído passo a passo e bem-vivido da dupla para nós, fãs e espectadores(as). Destaque-se o protagonismo retinto do elenco, conjunto, aliás, sempre sub-representado no audiovisual e que faz ressaltar sobre quem é este filme.

Beto/Buchecha (Juan Paiva), à esquerda, e Claudinho (Lucas Penteado), à direita, em uma de suas primeiras idas ao estúdio. Foto: João Atala.

O filme é, sim, a respeito do sonho de dois meninos negros, mas é também a respeito do amor seminal de homens negros, a quem a afetividade e o amar são negados, e de uma trajetória não interrompida pelo Brasil, apesar de uma fatalidade. Outra geração de meninos e de meninas negros e negras conhecerá quem ainda nos segue exemplo e poderá, por fim, como nós já fizemos, inspirar-se em iguais. Está aqui a grande tela para torná-lo possível.

Nosso Sonho estreia nesta quinta-feira, dia 21/9, nos cinemas do país.

Beto/Buchecha (Juan Paiva), à esquerda, e Claudinho (Lucas Penteado), à direita, em apresentação no Clube Tijuca (2002). Foto: Angelica Goudinho.

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Thainá Campos Seriz
Thainá Campos Seriz

Written by Thainá Campos Seriz

Historiadora (UFF). Pesquisa e revisão de conteúdo no Canal Preto. Escrevo sobre cinema.

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