Motel Destino: thriller erótico sucumbe à força do próprio desejo em longa quente de Karim Aïnouz

Thainá Campos Seriz
3 min readAug 22, 2024

--

Pôster promocional de “Motel Destino” (Pandora Filmes, 2024), longa dirigido por Karim Aïnouz e roteirizado por Wislan Esmeraldo, por Mauricio Zacharias e por Karim Aïnouz. Foto: divulgação/Pandora Filmes.

Título: Motel Destino
País de origem: Brasil, França e Alemanha (2024)
Duração: 115 minutos
Gênero: thriller erótico
Direção: Karim Aïnouz
Roteiro: Wislan Esmeraldo, Mauricio Zacharias e Karim Aïnouz
Produção: Hélène Théodoly, Gabrielle Tana, Michael Weber, Viola Fügen, Didar Domehri, André Novis, Caio Gullane, Fabiano Gullane e Janaina Bernardes
Fotografia: Hélène Louvart
Montagem: Nelly Quettier
Direção de arte: Marcos Pedroso
Trilha sonora: Amine Bouhafa e Benedikt Schiefer
Figurino: Ananda Frazão
Distribuição (Brasil): Pandora Filmes
Elenco: Iago Xavier, Nataly Rocha, Fábio Assunção

O longo inverno dos sonhos de país vigente nos terríveis anos 2018–22 encontra-se dissipado no tempo sempre quente da Fortaleza (CE) de Motel Destino (Pandora Filmes, 2024). O neon-noir de Karim Aïnouz forja à colorimetria de saturações em vermelho, em verde, em azul e em amarelo o desvelamento da psicologia do trio principal de personagens entre o persistente ruído dos gemidos a superecoar as turbulências interiores nas sombras da noite alta. Latente, o suor relaciona-se com a expressão da liberdade pelo prazer e pela indisciplina dos corpos ao ascetismo, ao domínio da racionalidade e à superexploração capitalista enquanto ética vedada às subjetividades, ao que a parafilia estabelece-se, pois perseguida, vigilante, considerados o monitoramento coppoliano de câmeras (1974) e a arquitetura espacial panopticamente hitchcockiana (1954).

A chegada de Heraldo (Iago Xavier) ao Motel Destino abala a já frágil, pois violenta, união de Dayana (Nataly Rocha) e de Elias (Fábio Assunção). Sob o calor de uma Fortaleza enrolada e de gemidos incessantes, o tesão atmosféricos lentamente transmuta-se em suspense e em ameaça à vida. Foto: reprodução.

Constrangido, então, o trabalho consigo (ver Foucault, 1988) ante o calor das emoções, a verve masculinista de Elias (Fábio Assunção) exacerbaria antes a passivo-agressividade retórica e de gestos dominadora do entorno. Sobreviventes das tragédias da própria história, a fuga de Dayana (Nataly Rocha) e de Heraldo (Iago Xavier) ao destino da morte emularia a ambivalência mesma de motivações do esgueirar-se noturno de uma invisibilidade pró-resistência. Se o entrecruzamento dos dramas vivenciados às respectivas biografias tencionava atribuir profundidade à conexão sexo-sexo da dupla, no entanto, a redução deste objetivo a linhas de diálogo concorre para o desperdício nunca exploratório dos afetivos interesses reprimidos da 3ª força em cena e das repercussões por isso constituídas à jornada do novo par romântico.

Algo ruminante, o estabelecimento da similitude de ambas as trajetórias ofereceria espaço limitado ao desenlace do suspense e de desfecho mais climático à linha narrativa adotada — exclua-se a conclusão per se — . A efervescência inicial do aguardo longa despotencializa-se à sequência apenas sugerida dos vários mistérios a rondar as pretensões além-sexuais do terceto protagonista e sucumbe à promessa de quem desejava ser.

Entre parafilia, vigilantismo e suspense neonoir, os interesses amorosos ou não do trio formado por Heraldo (Xavier), por Dayana (Rocha) e por Elias (Assunção) imiscuem-se em uma jogada perigosa que envolve sexo, traição e violência no Ceará de Karim Aïnouz. Fotos: reprodução.

--

--

Thainá Campos Seriz
Thainá Campos Seriz

Written by Thainá Campos Seriz

Historiadora (UFF). Pesquisa e revisão de conteúdo no Canal Preto. Escrevo sobre cinema.

No responses yet