Medianeras: Buenos Aires da Era do Amor Virtual: superindividualismo digital estressa solidão afetiva em inverno arquitetônico da megalópole argentina de Gustavo Taretto

Thainá Campos Seriz
3 min readJul 12, 2024

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Pôster promocional de “Medianeras: Buenos Aires da Era do Amor Virtual” (título original: “Medianeras”, 2011), longa dirigido e roteirizado por Gustavo Taretto. Foto: reprodução.

Título original: Medianeras
Países de origem: Argentina, Espanha e Alemanha (2011)
Duração: 95 minutos
Gênero: drama; romance
Direção e roteiro: Gustavo Taretto
Produção: Natacha Cervi e Hernán Musaluppi
Fotografia: Leandro Martínez
Montagem: Pablo Mari e Rosario Suarez
Direção de arte: Luciana Quartaruolo e Romeo Fasce
Trilha sonora: Gabriel Chwojnik
Figurino: Flavia Gaitán
Distribuição (Brasil): Imovision
Elenco: Pilar López de Ayala, Javier Drolas, Inés Efron, Carla Peterson

Capital dos mundos de Mariana (Pilar López de Ayala) e de Martin (Javier Drolas), a Buenos Aires de Medianeras: Buenos Aires da Era do Amor Virtual (título original: Medianeras) (Imovision, 2011) afigura-se monstruosa, pois lúgubre, em sua quase natureza megalomaníaca. Escrutinada à sequência pioneira de planos gerais, a unitemática arquitetura da grande metrópole alegoriza a solidão forjada estressor coletivo da vida no capitalismo urbanoide digital(izado). Talvez presumível, a sugestão de uma complexidade imagética a traduzir a ampla informatização dos circuitos socioeconômico-produtivos e laborais logo decai à visualidade colorimetricamente pouco saturada e cuja predominância de tons frios ambienta o caráter algo patologizante da disforia afetiva gestada a uma ansiedade sobretudo informacional.

Uma vez abandonados por suas parcerias românticas, o reinício da passagem à vida de Mariana (Pilar López de Ayala) e de Martin (Javier Drolas) é adiado pela solidão incapacitante como fomentada à performance das vidas urbana e digital na grande Buenos Aires. Fotos: reprodução.

Distanciado do trabalho consigo (ver Foucault, 1988) pela hiperconectividade, ao duo protagonista a narração em voice-over constituir-se-ia sintoma da dissonância comunicativa processada a uma debilidade emocional consequente do abandono de ex-parcerias românticas, ao que a trilha sonora adensaria ainda estados psicológicos distintos. O arco dramático da arquiteta-vitrinista é metáfora interessante de uma agência constituída inábil à perspectiva de presente e de futuro alternativos vedada em mobilidade e, a isto, a música extra e intradiegética de temas instrumentais faz sonorizar angústias, medos, dilemas, dores, contemplação e encantamento não verbalizados. Intensificadas em ocorrência a partir do 2º ato, as contiguidades visuais fundam a similitude complementar entre trajetórias, agora, redefinidas à mudança da iluminação de cenários e da paleta de cores de figurinos, bem como à passagem a ímpeto renovado de viver materializada nas canções True Love Will Find You in the End (Daniel Johnston, 1990) e Ain’t No Mountain High Enough (Nickolas Ashford e Valerie Simpson, 1966).

Fim e reinício da busca, o autorreconhecimento às emoções e aos afetos restabelecidos em inteireza viabilizará a chegada e o cultivo mesmo do amor nas possibilidades conquanto iluminadas às luzes de telas quais já não transformadas em acessórias. Afinal, montanha tão ou mais íngreme a escalar é a da existência fragmentária em ruídos, em superestímulos ou em meias verdades. Para a consecução da primavera, o inverno da alma precisa chegar ao fim, enquanto sentir o ciclo à pele realiza-se imperativo ético.

O desencontro consigo e com outrem provocado à volatilidade das relações no capitalismo digital inviabiliza quaisquer perspectivas de presente e de futuro alternativos àqueles das pequenas telas. Neste sentido, o amor torna-se alvo da desintegração do real, considerando-se a vida reproduzida em rede. Foto: reprodução.

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Thainá Campos Seriz
Thainá Campos Seriz

Written by Thainá Campos Seriz

Historiadora (UFF). Pesquisa e revisão de conteúdo no Canal Preto. Escrevo sobre cinema.

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