Mamonas Assassinas: O Filme: cinebiografias carecem do que é elementar à compreensão de si mesmas, ou seja, a própria história

Thainá Campos Seriz
4 min readDec 27, 2023

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Pôster promocional de “Mamonas Assassinas: O Filme”, longa dirigido por Edson Spinello sobre a trajetória meteórica da banda que conquistou uma geração e todo o país. Foto: reprodução.

Título: Mamonas Assassinas: O Filme
País de origem: Brasil (2023)
Duração: 95 minutos
Gênero: biografia; comédia dramática
Direção: Edson Spinello
Roteiro original: Carlos Lombardi
Produção executiva: Marcos Didonet, Vilma Lustosa e Walkiria Barbosa
Produção: Marcos Didonet, Vilma Lustosa e Walkiria Barbosa
Direção de fotografia: Pedro Iorio
Figurino: Heitor Taddeo Ramaglio
Maquiagem: Lucas Martins
Som direto: Zezé D’Alice, ABC
Edição de som e mixagem: Gabriel Pinheiro, A3pS
Montagem: Rodrigo Daniel Melo, edt.
Trilha sonora: Ronaldo Pellicano
Preparação de elenco: Jarbas Homem de Mello
Produção de elenco: Solange Jovino e Tate Costa
Produção: Total Entertainment
Coprodução: Mamonas Assassinas Produções e Claro
Distribuição: Imagem Filmes
Elenco: Ruy Brissac, Rhener Freitas, Adriano Tunes, Robson Lima, Beto Hinoto, Fefe Schneider, Jessica Córes, Jarbas Homem de Mello, Guta Ruiz

Adianto não recordar o que fazia aquando do recebimento da notícia da morte dos membros dos Mamonas Assassinas no fatídico 2/3/1996. Aos quatro anos, pouco ou nada compreendia, mas lembro-me de ver a imagem já dos destroços do avião onde passageiros e tripulação morreram vitimados no Fantástico, programa dominical noturno da Rede Globo. Felizmente, Mamonas Assassinas: O Filme (Imagem Filmes, 2023) soube poupar-nos da mesma visão, mas enquanto cinebiografia, diga-se, falhou em situar o surgimento da banda no tempo e no espaço dos anos 1990 nacionais de maneira, aliás, decepcionante.

Dinho (Ruy Brissac) aparece no comando da celebrada brasília amarela, fonte de um dos maiores sucessos dos Mamonas Assassinas (1995–1996). Foto: reprodução.

Acossadas e acossados por uma sequência de produções do gênero nas indústrias de cinema do país e internacionais, a mim, segue enigmática a falta de compromisso em reaver história(s) e aprendizado deixados por ícones e/ou por referências do imaginário popular coletivo, sem a relação com conjunturas tempo-sociopolítico-culturais específicas. Biografias são complexas, pois exigem o enfrentamento de contradições e de outros debates a envolver a inserção de um e outro atores no mundo. No presente caso, a narração em voice over na cena de abertura, cuja montagem dispunha de variadas imagens de arquivo, prometia conjugar o balanço do legado do grupo entre a viagem de retorno ao passado da união de Dinho (nascido Alecsander Alves Leite, 1971–1996) (Ruy Brissac), de Sérgio (nascido Sérgio Reis de Oliveira, 1969–1996) (Rhener Freitas) e de Samuel Reoli (nascido Samuel Reis de Oliveira, 1973–1996) (Adriano Tunes), de Bento Hinoto (nascido Alberto Hinoto, 1970–1996) (Alberto Hinoto) e de Júlio Rasec (nascido Júlio César Barbosa, 1968–1996) (Robson Lima), antes, na banda de rock progressivo Utopia e, em seguida, a partir de 1995, nos renomeados Mamonas Assassinas, explorando as trajetórias individual-familiares e as relações estabelecidas — inclusive, românticas — , quando existentes, por cada integrante. Entretanto, o abuso de split-screens na tentativa de ilustração de um nascente, porém já contemporâneo sucesso do grupo a um ou outro momento narrativo estagna o roteiro na sucessão de eventos atinentes aos até bem-recriados fragmentos de shows por direção de arte e por parte do elenco e não evolui, tampouco conclui algo.

Se Ruy Brissac destaca-se como o inconfundivelmente carismático Dinho, a insistência quase excessiva na afirmação da (sobre)agência do mamona à formação final da banda apaga as demais atuações também secundarizadas ao nível de uma edição e de uma decupagem pouco criativas. Quando não superficializadas, aquelas relações amorosas são reduzidas a uma latente vilania das parceiras femininas, em geral, tornadas responsáveis pela breve decepção afetiva a desequilibrar ou a quase desarticular o conjunto. Os meninos de Guarulhos, é certo, tornaram-se símbolo de uma geração, pois representavam os anseios vários de uma juventude frustrada aos dissabores socioeconômicos da década de seu surgimento, porque igualmente recém-saída das interdições moral-comportamentais da ditadura cívico-empresarial-militar (1964–1985). Disso, contudo, não sabemos, mas o fato é fundamental à compreensão da meteórica e fugaz ascensão dos uma vez utópicos.

Na imagem à esquerda, Dinho (Ruy Brissac) aparece ao lado de Adriana (Fefe Schneider), sua futura namorada. Na imagem à direita, Hildebrando (Jarbas Homem de Mello) e Dinho dividem a conquista da rápida ascensão da banda. Fotos: divulgação/Edu Moraes.

Os mamonas vivem, mas cuidado deveria haver em uma refundação mais acurada da memória do porquê os amamos e o continuaremos, apesar do ou com o fim do ciclo a quem cresceu sob esta inspiração.

Com direção de Edson Spinello e roteiro original de Carlos Lombardi, Mamonas Assassinas: O Filme estreia em 28/12 nos cinemas.

Em destaque, aparecem (atrás, da esquerda para a direita) Júlio Rasec (Robson Lima), Sérgio Reoli (Rhener Freitas), Samuel Reoli (Adriano Tunes) e Bento (Alberto Hinoto), seguidos de Dinho (à frente) (Ruy Brissac). Foto: divulgação: Edu Moraes.

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Thainá Campos Seriz
Thainá Campos Seriz

Written by Thainá Campos Seriz

Historiadora (UFF). Pesquisa e revisão de conteúdo no Canal Preto. Escrevo sobre cinema.

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