Luiz Melodia — No Coração do Brasil: cinebiografia exclui balanço historiográfico fundamental à memória e à reparação pelo esquecimento de décadas da vasta obra do autor do Estácio

Thainá Campos Seriz
3 min readJan 14, 2025

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Pôster promocional de “Luiz Melodia — No Coração do Brasil” (2024) (Embaúba Filmes, 2025), documentário dirigido por Alessandra Dorgan e roteirizado por Alessandra Dorgan, por Patricia Palumbo e por Joaquim Castro. Foto: divulgação/Embaúba Filmes.

Título: Luiz Melodia — No Coração do Brasil
País de origem: Brasil (2024)
Duração: 85 minutos
Gênero: documentário
Direção: Alessandra Dorgan
Roteiro: Alessandra Dorgan, Patricia Palumbo e Joaquim Castro
Pesquisa: Camila Camargo
Produção: Camila Nunes, Daniel Gaggini, Deborah Osborn e Felipe Briso
Produção executiva: Camila Nunes e Daniel Gaggini
Montagem e desenho de som: Joaquim Castro
Direção musical: Patricia Palumbo
Distribuição: Embaúba Filmes
Elenco: Luiz Melodia, Gal Costa, Maria Bethânia

O chamado não violento à libertação do corpo ante o canto talvez deseje equiparar o pedido nos palcos de Luiz Melodia (nascido Luiz Carlos dos Santos, 1951–2017) ao heterodoxo, porém não original feito — veja-se o recém-lançado longa documental Othelo, o Grande (dir.: Lucas Rossi dos Santos, 2023) — que Luiz Melodia — No Coração do Brasil (2024) (Embaúba Filmes, 2025) intenciona perfazer. À montagem de Joaquim Castro, a construção cronológico-narrativa articula em 1ª pessoa elementos cujo nexo biográfico compreende a origem no Morro de São Carlos, as influências artísticas paternas e o acréscimo à carreira profissional facilitado pelas relações com Waly Salomão (nascido Waly Dias Salomão, 1943–2003), com Torquato Neto (nascido Torquato Pereira de Araújo Neto, 1944–72), com Gal Costa (nascida Maria da Graça Penna Burgos, 1945–2022) e com Maria Bethânia (1946), bem como o ostracismo por décadas amargado em razão do confronto com o sistema de gravadoras por sua independência criativa. O conjunto imagético reunido vincula o acervo pessoal do compositor do Estácio a obras cinematográficas e a outra documentalidade para o registro de bricolar fruição metalinguística, tendo aí a quase ingênua recusa de exame mais acuradamente historiográfico efeito contudo despotencializador do legado da trajetória escrutinada e da relevância de obra singular às conjunturas setentista e oitentista nacionais.

Autor cuja poética singular legaria canções que, além-românticas, exaltariam o Morro de São Carlos, Luiz Melodia (1951–2017) alcançaria visibilidade como letrista depois do lançamento da canção “Pérola Negra” (1973) na voz de Gal Costa (1945–2022). Fotos: divulgação/Embaúba Filmes.

Não obstante vocal-visuais, as referências ausentes a nomes, a temporalidades e às geografias visitados inviabilizam o cotejamento das fontes empregadas em processo de análise a ser também teórico-intelectual da densa pesquisa realizada. Se possível fosse, a oportunidade do balanço histórico das contribuições bibliomusicais com o relato a preservar-se interno de Melodia sedimentaria melhor a reflexão sobre o valor literário-cultural do cancioneiro do autor carioca. A real extensão do alcance da poética melodiana entre a identidade brasileira faria da memória instrumento reparador à ousadia por liberdade penalizada no passado, mas ainda desconhecê-lo em toda potência sequestra-o da chance de pertencer de facto ao coração do país.

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Thainá Campos Seriz
Thainá Campos Seriz

Written by Thainá Campos Seriz

Historiadora (UFF). Pesquisa e revisão de conteúdo no Canal Preto. Escrevo sobre cinema.

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