Kasa Branca: masculinidades negras cimentam reprodução coletiva e redimem-se à agência dos próprios afetos em belíssimo longa de Luciano Vidigal
Título: Kasa Branca
País de origem: Brasil (2024)
Duração: 95 minutos
Gênero: drama
Direção e roteiro: Luciano Vidigal
Produção: Bárbara Defanti, Gisela Camara, Roberto Berliner, Sabrina Garcia, Leo Ribeiro, Cavi Borges
Produção associada: Carlos Diegues
Direção de fotografia: Arthur Sherman
Montagem: André Sampaio
Direção de arte: Alexandre Magalhães e Rafael Cabeça
Som: Vampiro e Fernando Aranha
Música: Fernando Aranha e Guga Bruno
Distribuição: Vitrine Filmes
Elenco: Big Jaum, Teca Pereira, Diego Francisco, Ramon Francisco, Gi Fernandes, Babu Santana, Roberta Rodrigues, Otavio Muller, Guti Fraga, Dj Zullu, L7nnon
O entrecruzamento de destinos sugerido a cada passagem do trem faz dos trilhos espaço inteligente do desenrolar de subtramas convergentes nos afetos. Distante do retrato cinemanovista sobre as mazelas ainda não superadas das desigualdades sociorraciais à brasileira, Kasa Branca (2024) (Vitrine Filmes, 2025) destaca no cotidiano a materialidade da vida que, favelada, realiza-se em si pelas manifestações amorosas, cultural-econômicas e intelectuais de quem ao território pertence. Se as violências — da opressão à pobreza às brutalidades policial e paraestatal — presentificam-se como obstáculo ao alcance da dignidade plena, o empenho quase solitário de Dé (Big Jaum) no cuidado com a avó Almerinda (Teca Pereira) é força sobretudo comunicadora do poder das relações interpessoais na reprodução comunitária.
Jenkinsiana (2016), a luz do luar ilumina as expressões do desejo de masculinidades negras redimidas por seus sentimentos e agência. Nunca vacilante, o esforço incansável de Adrianim (Diego Francisco) e de Martins (Ramon Francisco) no auxílio ao protagonista humaniza-os na busca também individual do amor enquanto horizonte da vida no futuro, incluindo-se o agora. Em iorubá, a memória reconstitui entre a longevidade o direito ao bem-viver e, dado o descanso ancestral da personagem de Teca Pereira, para a homóloga de Big Jaum, a chance de inteireza é devolvida ao corpo em sinal da própria ligação a este tempo.