Jogos Vorazes: A Cantiga dos Pássaros e das Serpentes: balada mais sonora é aquela das escolhas e consequências admitidas

Thainá Campos Seriz
4 min readNov 14, 2023

--

Pôster promocional de “Jogos Vorazes: A Cantiga dos Pássaros e das Serpentes” (título original: “The Hunger Games: The Ballad of Songbirds and Snakes”), uma produção de Nina Jacobson, de Brad Simpson e de Francis Lawrence). Foto: divulgação.

Título original: The Hunger Games: The Ballad of Songbirds and Snakes
País de origem: Estados Unidos
Duração: 158 minutos
Gênero: ficção científica; ação; aventura
Direção: Francis Lawrence
Roteiro: Suzanne Collins, Michael Arndt e Michael Lesslie
Obra original: Suzanne Collins
Produção: Nina Jacobson, Brad Simpson e Francis Lawrence
Produção executiva: Suzanne Collins, Jim Miller, Tim Palen e Mika Saito
Coprodução: Christoph Fisser e Charlie Woebcken
Trilha sonora: James Newton Howard
Direção de fotografia: Jo Willems
Edição: Mark Yoshikawa
Design de produção: Uli Hanisch
Figurino: Trish Summerville
Empresas produtoras: Lionsgate Filmes, Color Force e Good Universe
Distribuição (Brasil): Paris Filmes
Elenco: Tom Blyth, Rachel Zegler, Peter Dinklage, Viola Davis, Hunter Schafer, Jason Schwartzman, Josh Andrés Rivera

Em geral, hesito ante retornos, pois considero que novas histórias precisam suceder daí derivadas ou não, àquelas já consagradas e/ou exploradas. Com direção de Francis Lawrence (a mesma de outros Jogos Vorazes) e roteiro de Suzanne Collins, autora da obra original, de Michael Arndt e de Michael Lesslie, Jogos Vorazes: A Cantiga dos Pássaros e das Serpentes (título original: The Hunger Games: The Ballad of Songbirds and Snakes) (Paris Filmes, 2023) pode ser exemplo contrário à baixa qualidade de outros de seu tipo, mas tão só reafirma compreensão já estabelecida por antecessores e, pior, tenta atribuir razões teleológicas para a perversidade alheia. Neste 5º filme, acompanhamos os eventos da 10ª edição dos Jogos Vorazes, anteriores em 64 anos, portanto, ao longa inaugural da série, porém responsáveis pela ascensão de Coriolanus Snow (Tom Blyth) entre a cena daquela Panem e pela teatralização do morticínio. Estruturada em três capítulos, a película centraliza os efeitos da rebelião dos Distritos sobre o fechamento do regime da Capital e a respectiva criação dos Jogos como política de vingança coletiva — de viés racial-classista — ao levante na trajetória de Snow — de aluno a mentor e parte dos Idealizadores — .

Antes de Katniss Everdeen (Jennifer Lawrence), Lucy Gray Baird (Rachel Zegler) encantaria a competição com um carisma e uma impetuosidade refletidos no canto forte das poesias de protesto belissimamente envidadas. Embora a irregularidade de Zegler tenha afetado qualquer simpatia particular, confesso, os cânticos entoados conquistaram a mente e o coração de um excelente Tom Blyth como o filho do General Crassus Snow, cocriador gravemente equivocado, qual sugere o nome em latim, da matança com o Casca Highbottom de Peter Dinklage, que equilibra o centro emocional desta balada junto à magistral Dra. Volumnia Gaul de Viola Davis. Apesar da origem célebre, Coryo Snow amargava a penúria financeira, quando fora convocado a mentorar uma selecionada Lucy Gray Baird enquanto tributo do Distrito 12. Se a bancarrota não oportuniza a barganha social por prestígio no mercado simbólico, no entanto, em outra vaga, o mesmo artifício não é capaz de equiparar, em status e em vontade, mentor e tributos, pois caçado a uma arena para o sacrifico público se não o foi, a despeito de alguma autoconsciência. Então, por empatia, apaixonamento, piedade ou desejo de autosalvação/de salvação do grupo, contribuindo com a vitória de Baird, C. Snow evitaria a própria desgraça e a de sua família. O fato não seria um problema, se, com isso, a tentativa de relativizar as escolhas realizadas pela personagem de T. Blyth não fosse descortinada em tela.

Em cena, o início da relação entre o mentor Coriolanus Snow (Tom Blyth) e bardo-rebelde Lucy Gray Baird (Rachel Zegler). Foto: divulgação.

Afinal, trapaças, traições, mortes desnecessárias e omissões justificar-se-iam entre o romance com uma Lucy Baird vilanizada ao final. Guiado, porquanto, pelo amor, um quase inocente Coriolanus (contém ironia) mata inimigos, trai o melhor amigo e, paranoico, dada a estressante jornada, passa a desconfiar das atitudes da amada, até que a mata — admito a controvérsia da conclusão, em virtude da ausência, como apontada por Marcio Sallem, mestre e amigo, de um corpo — , dizendo-se destruído por sentimentos e por boas intenções.

À frente, o melhor amigo Sejanus Plinth (Josh Andrés Rivera), a quem Coryo Snow (Tom Blyth) traiu a parceria. Foto: divulgação.

Acho sintomático ver que brancos socialmente decaídos sejam rapidamente equiparados a heróis, porque inferiorizados ao ponto da (fajuta) comparação com maiorias minorizadas, e, por isso mesmo, um vez traídos em privilégio e em fingida abnegação, nunca transformados em vilões. A título de registro, são eles os premiados com uma reverência.

Destruídos somos nós, quando fugimos às consequências de nossas decisões, e o amor nada tem aí a ver. Debeláveis são as sombras assim admitidas, e Jogos Vorazes: A Cantiga dos Pássaros e das Serpentes, não obstante comoventes diótropos e a predominância de um vermelho também ilustrativo da paixão e da força pessoal do protagonista, não se percebe celebração de alguém perverso.

The Ballad of Songbirds and Snakes estreia nesta quarta-feira, dia 15/11, nos cinemas brasileiros.

Nas extremidades esquerda e direita, respectivamente, Casca Highbottom (Peter Dinklage) e Volumnia Gaul (Viola Davis) informam o caráter do mentor e pupilo Coriolanus Snow (Tom Blyth). Ao centro, o bardo vilanizado de Lucy Gray Baird (Rachel Zegler). Fotos: divulgação.

--

--

Thainá Campos Seriz
Thainá Campos Seriz

Written by Thainá Campos Seriz

Historiadora (UFF). Pesquisa e revisão de conteúdo no Canal Preto. Escrevo sobre cinema.

No responses yet