Jogo de Cena: autoficção é realismo documental em cinema de Eduardo Coutinho

Thainá Campos Seriz
2 min readFeb 28, 2024

--

Pôster promocional de “Jogo de Cena” (VideoFilmes, 2006), longa documental com direção e roteiro de Eduardo Coutinho (1933–2014). Foto: reprodução.

Título original: Jogo de Cena
País de origem: Brasil (2007)
Duração: 105 minutos
Gênero: documentário; drama
Direção e roteiro: Eduardo Coutinho
Pesquisa e direção assistente: Cristiana Grumbach
Produção: Raquel Freire Zangrandi
Direção de fotografia: Jacques Cheuiche
Montagem: Jordana Berg
Captação de som: Valéria Ferro
Distribuição: VideoFilmes
Elenco: Marília Pêra, Andréa Beltrão, Fernanda Torres, Aleta Gomes Vieira, Claudiléa Cerqueira de Lemos, Débora Almeida, Gisele Alves Moura, Jeckie Brown, Lana Guelero, Maria de Fátima Barbosa, Marina D’Elia, Mary Sheyla, Sarita Houli Brumer

Do registro da materialidade a um tempo histórico depende o exame das geografias emocionais como organizadas ao mistério ainda não fabulado da compreensão, ao presente, da vida ideada ao interior. Em Jogo de Cena (VideoFilmes, 2007), Eduardo Coutinho radicaliza o próprio documentalismo ao transformar as histórias consigo narradas em performance dramática. Ao uso variado de planos (médios e primeiríssimos), teatro e realidade encenam-se verdades, pois produtos da fabulação criada per se à câmera, observadora por excelência participante do trabalho com as emoções e com a memória individual reelaborada à palavra. A escolha, contudo, de mulheres para a cena interpõe ao enredo um problema de gênero então inédito à filmografia do diretor, a considerar-se a expressão coletivizada de dramas pluralmente afins ao esforço autoelaborativo de distintas mulheridades, quando reavaliadas ao maternar.

A agência em outra vaga performática de escuta já característica articula a uma montagem não linear a simbolização não Outremizada (Morrison, 2016), pois original, do feminino desvelado às ambiguidades não negadas da fantasia engendrada de si entre existência subjetiva antes recalcada ao silêncio. Neste sentido, o cinema, teatro vivo do real imaginado, assenta o diretor, (re)faz-se ao empreendimento ficcional, porquanto artístico, de realidades psicológicas e/ou materiais sondáveis entre o exercício da observação identificada de si a outrem e à síntese, no presente, de passado-futuro coletivo compartilhado. Por fim, a autoficção social realizada à alteridade do cinematógrafo ou do jogo de cena teatral é, porque afirmativa da dignidade humana, retomável ao protagonismo narrativo da autocriação simbólica.

Realidade e ficção misturam-se, quando verdade e fabulação descortinam-se ao ligar das câmeras. Na imagem à esquerda, Lana Guelero envida a história de personagem real presente na imagem à esquerda. Fotos: reprodução.

Visto para o Clube do Filme.

--

--

Thainá Campos Seriz
Thainá Campos Seriz

Written by Thainá Campos Seriz

Historiadora (UFF). Pesquisa e revisão de conteúdo no Canal Preto. Escrevo sobre cinema.

No responses yet