Jardim dos Desejos: passado confronta possibilidades do presente em longa de temática já conhecida do cinema de Paul Schrader

Thainá Campos Seriz
3 min readMay 31, 2024

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Pôster promocional de “Jardim dos Desejos” (título original: “Master Gardener”, 2022), (Pandora Filmes, 2024), longa com direção e roteiro de Paul Schrader. Foto: reprodução.

Título original: Master Gardener
País de origem: Estados Unidos (2022)
Duração: 111 minutos
Gênero: drama; suspense
Direção e roteiro: Paul Schrader
Produção: Amanda Crittenden, David Gonzales e Scott LaStaiti
Fotografia: Alexander Dynan
Montagem: Benjamin Rodriguez Jr.
Trilha sonora: Devonté Hynes
Direção de arte: Ashley Fenton
Figurino: Wendy Talley
Distribuição (Brasil): Pandora Filmes
Elenco: Joel Edgerton, Sigourney Weaver, Quintessa Swindell, Esai Morales, Eduardo Losan, Victoria Hill, Amy Le, Erika Ashley, Timothy McKinney, Jared Bankens, Matt Mercurio

Entusiasta das subjetividades, Paul Schrader oportuniza em suas produções o entendimento da natureza humana na interposição da história ao presente de uma vida certamente refeita sob experiência traumática, mudança estrutural ou injustiça qualquer. A reboque de uma cinematografia consagrada, a estreia da última quinta-feira (30) nas salas escuras do país não se distancia do conhecido à obra do diretor e roteirista estadunidense. Em Jardim dos Desejos (título original: Master Gardener, 2022) (Pandora Filmes, 2024), Narvel Roth (Joel Edgerton) é administrador do premiado jardim colonial da propriedade de Norma Haverhill (Sigourney Weaver), uma matrona solitária. Adoecida, Haverhill incumbe Roth da formação da recém-chegada, porém distante sobrinha-neta Maya Core (Quintessa Swindell), única remanescente familiar e por quem certo desprezo racista mostrara-se, entretanto, latente.

Em cena, os enigmáticos Narvel Roth (Joel Edgerton) e Norma Haverhill (Sigourney Weaver). Foto: reprodução.

A inserção realizada perturbadora de mestre e de aprendiz a uma dupla atualidade confrontá-los-ia com certo passado afeito à ordem por que suas vidas estabeleceram-se resignadas a inglórias ações e à solidão das próprias dores. Com efeito, o horticultor passa ao escrutínio da nada elogiosa trajetória de militante neonazista enquanto medida para o incipiente encantamento além-lida diária com a aluna. A estabilidade do mundo criado à disciplina rígida de cuidados com distintas espécies vegetais reflete-se na delicadeza quase excessiva da segura movimentação da câmera entre estufas e canteiros, bem como nos contrastes de luzes e de sombras impressos à paleta de cores variante em tons frios, pastéis e saturados. Neste sentido, o formalismo do cinema de Schrader constitui elemento da psicologia de um protagonista cindido pela memória do horror e pela consecução mesma da existência.

Em cena, o enquadramento sugerido da visão da personagem de Quintessa Swindell às inscrições corporais do homólogo envidado por Joel Edgerton aproxima-a de clivagem semelhante — considerada a adicção — , sem equipará-la, todavia, em danos provocados. Não obstante belo, o parco ou o quase nulo desenvolvimento das (complexas) temáticas circundáveis a ambos os atores sociais despotencializa o enredo a uma humanização aventável, no caso de Narvel R., não ao abandono ideológico por esforço antes reparatório, mas antes vinculada ao desejo único de um enlace romântico. Ademais, as subtramas paralelas parecem querer distrair o trabalho de roteiro quanto ao interrelacionamento do casal com a Norma H. de Sigourney Weaver e a afiliação pró-supremacismo pregressa. Interessante, a promessa de Master Gardener, contudo, não se cumpre e, frente à filmografia do realizador, o longa estreante na edição de 2022 do Festival de Cinema de Veneza soma-se a estilo e a tema já sabidos.

Do alto de seu desprezo racista, N. Haverhill (Sigourney Weaver) interdita-se à visão de um incipiente encantamento e do posterior romance ocorrido entre o horticultor, ou algo amante, N. Roth (Joel Edgerton) e a sobrinha-neta (Quintessa Swindell). Explosivo, interrelacionamento destas forças terminaria pouco explorado por Paul Schrader. Fotos: reprodução.

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Thainá Campos Seriz

Historiadora (UFF). Pesquisa e revisão de conteúdo no Canal Preto. Podcaster no ObSessões de Cinema.