How to Have Sex: saudável, falar sobre sexo com jovens pode ser autoproteção
Título original: How to Have Sex
País de origem: Reino Unido
Duração: 98 minutos
Gênero: drama
Direção e roteiro: Molly Manning Walker
Produção: Ivana MacKinnon, Emily Leo e Konstantinos Kontovrakis
Produção associada: Abiola Rufai-Awojide e Harriet Harper-Jones
Produção executiva: Farhana Bhula, Ben Coren, Phil Hunt, Kristin Irving, Fionnuala Jamison, Nathanaël Karmitz, Giorgos Karnavas e Compton Ross
Trilha sonora: James Jacob
Direção de fotografia: Nicolas Canniccioni
Design de produção: Luke Moran-Morris
Direção de arte: Liza Tsouloupa
Edição: Fin Oates
Empresas produtoras: FILM4, BFI, Wild Swim e Heretic
Empresas coprodutoras: U-Media e Headgear Films
Distribuição (Brasil): O2 Play Filmes e MUBI
Elenco: Mia McKenna-Bruce, Lara Peake, Samuel Bottomley, Shaun Thomas, Enva Lewis, Laura Ambler
A perda da virgindade é temática recorrentemente explorada entre os denominados coming of age movies, em especial, aqueles cujo retrato é o da descoberta da sexualidade masculina cisgênera e heterossexual. Tratamento distinto à questão e sob a perspectiva de três adolescentes britânicas (brancas e negra) é o mote de How to Have Sex (sem tradução em português/BR), filme vencedor da edição 2023 da Un Certain Regard (Mostra Um Certo Olhar) do Festival de Cannes. Dirigido e roteirizado pela estreante Molly Manning Walker, o longa traz Tara (Mia McKenna-Bruce), Em (Enva Lewis) e Skye (Lara Peake) estudantes secundaristas, preparando-se para férias de verão regadas a festas, a porres e, claro, a sexo. Tara, ou Taz, virgem, vê a ocasião como rito de passagem e, junto às melhores amigas, tenta encontrar momento e parceiro perfeitos à realização do objetivo. As cores vibrantes e o excesso de neon de cenários e de figurinos, para não falar do belíssimo poente azul-rosado de vários dos planos abertos, ambientam o que, em teoria, seria tão só diversão. No entanto, o desejo de Taz torna-se pesadelo.
Em outro dos dias de festa, apesar do flerte com Badger (Shaun Thomas), a adolescente tem um momento de intimidade com Paddy (Samuel Bottomley) e, entre a escuridão da noite, vê-se desacolhida. Porque da percepção talvez nublada de Taz em torno do vivido com o colega, duvidamos nós também de alguma violência cometida ou não em meio ao ato, embora a trilha sonora desloque-nos para a angústia e o medo instalados em Tara depois desta noite. O comportamento errático e feito lúgubre da jovem passa despercebido por Em e por Skye, fato a aprofundar a solidão, a vergonha e o desespero entre a paralisia de tamanho choque. Se, em ocasião posterior, a tentativa de Paddy em forçar uma relação sexual e, consequentemente, o estupro de Taz, que dormia, parece evidenciar-nos o antes ocorrido, a situação pregressa deve ter sua conclusão, portanto, atrelada ao presente. A abertura então permitida relevara-se um não consentimento durante o ato e, mesmo aí, adianto, o sexo precisa ser interrompido, ou tão só uma conversa sobre os próximos movimentos deve acontecer. Diante da eventual resistência do parceiro ou da parceira, urge cessar a ação.
Parte imaturidadade, parte desconhecimento pela ausência de diálogo com pessoas de referência ou de uma educação sexual, o machismo e a misoginia seguem reproduzidos, porque normalizados enquanto manifestações de masculinidade, ou, em oposição, de uma feminilidade passivo-submissa. A decupagem do plano de Tara ao espelho é, além de belíssima, reveladora: confrontar a própria imagem após o momento de consciência é doloroso, pois, antes, autoculpabilizador. A mensagem da cena final pode ser alentadora, em virtude do acolhimento da amiga ou da solidariedade que, inferida, existe e é chave, porém aliena os efeitos da violência sexual sobre as subjetividades sobreviventes ou quanto ao enfrentamento da questão nas esferas psicossocial e jurídica, se a última for levada a termo.
Igualmente indecisa a respeito de desfecho distinto do descortinado em tela, a corajosa abordagem ao tema sob a perspectiva feminina, contudo, é notável e, por isso, How to Have Sex deve ser saudado.
Assistido no Festival do Rio, o filme estreia em 15/11 nos cinemas brasileiros.