Hanami: realismo mágico ficcionaliza vaga identitária de Denise Fernandes entre limbo emocional de silêncios sobre sua ancestralidade afro-atlântica
Título: Hanami
Países de origem: Suíça, Portugal e Cabo Verde (2024)
Duração: 96 minutos
Gênero: fantasia; drama
Direção: Denise Fernandes
Roteiro: Telmo Churro e Denise Fernandes
Produção: Eugenia Mumenthaler, D. Epiney, Luís Urbano e Sandro Aguilar
Fotografia: Alana Mejía González
Montagem: Selin Dettwiler
Direção de arte: Mathé
Música: Rahel Zimmermann
Som: Henri Maïkoff
Desenho de som: Etienne Curchod
Elenco: Sanaya Andrade, Daílma Mendes, Alice da Luz, Nha Nha Rodrigues, João “Galinha” Mendes, Yuta Nakano
Marítimo, o abandono materno cria(ria) metáfora poderosa, porém trágica, da perda da identidade no próprio lugar do mundo. Fruto de doença da alma, a saída de Nia (Alice da Luz) da vulcânica ilha de origem embala o solitário crescimento da filha Nana (Daílma Mendes e Sanaya Andrade) na diferença de trajetórias instituída à fuga do arquipélago cabo-verdiano e frente a outras infâncias. A semelhança da língua (portuguesa) torna familiarmente lacunar o ímpeto de Denise Fernandes por saber a si mesma entre os trânsitos pós-coloniais e, por este motivo, Hanami (2024) só poderia fazer do realismo mágico peça ficcional de autodefinição à persistência de tamanhos vazios.
Adoecida pelos silêncios, a menina alucina rostos e idiomas distintos para o contraste de sua pele preta com pluralidade na qual também pudesse reconhecer-se. Em montagem sináptica ao infeccioso quadro médico da protagonista, o recurso ao tempo constitui-se elemento nevrálgico à travessia da solidão e da inescrutabilidade das ausências sentidas, quando o retorno da mãe desponta no horizonte da praia natal. Se lenta e não romantizada é a aproximação do duo feminino às histórias de suas vidas, conclua Fernandes por processo tão vagaroso quanto gentil de reencontro com a presente ancestralidade no existir interatlântico.