Guerra de Porcelana: discurso nativista engaja realismo ucraniano em propaganda pró-guerra do documentário de Brendan Bellomo e de Slava Leontyev

Thainá Campos Seriz
2 min readFeb 24, 2025

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Pôster promocional de “Guerra de Porcelana” (título original: “Porcelain War”) (Picturehouse, 2024), longa dirigido por Brendan Bellomo e por Slava Leontyev e roteirizado por Aniela Sidorska, por Brendan Bellomo, por Paula DuPre’ Pesmen e por Slava Leontyev que figura com uma indicação ao Oscar 2025 (Melhor Documentário). Foto: reprodução.

Título original: Porcelain War
Países de origem: Estados Unidos, Ucrânia e Austrália (2024)
Duração: 87 minutos
Gênero: documentário
Direção: Brendan Bellomo e Slava Leontyev
Roteiro: Aniela Sidorska, Brendan Bellomo, Paula DuPre’ Pesmen e Slava Leontyev
Produção: Aniela Sidorska, Paula DuPre’ Pesmen, Camilla Mazzaferro e Olivia Ahnemann
Fotografia: Andrey Stefanov
Montagem: Brendan Bellomo, Aniela Sidorska e Kelly Cameron
Música: DakhaBrakha
Elenco: Slava Leontyev, Anya Stasenko, Andrey Stefanov, Anya Stefanova

Os vários dispositivos de filmagem empregados em Guerra de Porcelana (título original: Porcelain War) (Picturehouse, 2024) pretendem reconstruir como interior a visão da resistência ucraniana ao avanço militar russo, pois antes heroica. Desde a assaltada Kharkiv e entre perdas materiais e humanas, a fotografia de Andrey Stefanov é hábil no uso de cores primárias e de insaturações para o refazimento da existência que, já decaída à agressão contra a Crimeia (2014), tornar-se-ia crepuscular aos sonhos e às esperanças outrora nutridos. Certamente relevante ao debelar psíquico dos horrores reiniciados em 2022, a metáfora da fruição artística de Anya Stasenko e de Slava Leontyev sobre as resilientes história e pertença nacionais seria mais bem-sucedida, se a retórica nativista da linguagem de protesto bradada não convocasse a participação em esforço paramilitar sob romantismo irresponsável.

Irresponsável, a convocatória ao engajamento civil no conflito armado sugerida por este Guerra de Porcelana parece ignorar a existência de um Exército Nacional inteiramente responsável pela arregimentação da defesa de seu país e romantiza a morte sob a prédica de sentimento nativista. Fotos: reprodução.

Propagandístico, o engajamento de compatriotas em seções milicianas tenta fazer do sacrifício de civis medida resolutiva à omissão da presidência da República e de instituições homólogas no afã mobilizador de defesa do país, obliterando interesses de agentes também externos na continuidade decretada de uma guerra sem fim. Hiperdramatizadora dos eventos narrados, a trilha sonora ainda concorre com seus temas musicais à justificativa de crimes cuja extensão desconsidera o financiamento das atividades do grupo e o caráter, porque uxoricida, traumático da agência de não militares no conflito. No lugar de valorizá-la enquanto acúmulo emancipatório e libertário de um povo, Porcelain War transforma a arte em poder de fogo e de destruição da vida pelo esfacelamento das subjetividades.

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Thainá Campos Seriz
Thainá Campos Seriz

Written by Thainá Campos Seriz

Historiadora (UFF). Pesquisa e revisão de conteúdo no Canal Preto. Escrevo sobre cinema.

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