Guerra de Porcelana: discurso nativista engaja realismo ucraniano em propaganda pró-guerra do documentário de Brendan Bellomo e de Slava Leontyev
Título original: Porcelain War
Países de origem: Estados Unidos, Ucrânia e Austrália (2024)
Duração: 87 minutos
Gênero: documentário
Direção: Brendan Bellomo e Slava Leontyev
Roteiro: Aniela Sidorska, Brendan Bellomo, Paula DuPre’ Pesmen e Slava Leontyev
Produção: Aniela Sidorska, Paula DuPre’ Pesmen, Camilla Mazzaferro e Olivia Ahnemann
Fotografia: Andrey Stefanov
Montagem: Brendan Bellomo, Aniela Sidorska e Kelly Cameron
Música: DakhaBrakha
Elenco: Slava Leontyev, Anya Stasenko, Andrey Stefanov, Anya Stefanova
Os vários dispositivos de filmagem empregados em Guerra de Porcelana (título original: Porcelain War) (Picturehouse, 2024) pretendem reconstruir como interior a visão da resistência ucraniana ao avanço militar russo, pois antes heroica. Desde a assaltada Kharkiv e entre perdas materiais e humanas, a fotografia de Andrey Stefanov é hábil no uso de cores primárias e de insaturações para o refazimento da existência que, já decaída à agressão contra a Crimeia (2014), tornar-se-ia crepuscular aos sonhos e às esperanças outrora nutridos. Certamente relevante ao debelar psíquico dos horrores reiniciados em 2022, a metáfora da fruição artística de Anya Stasenko e de Slava Leontyev sobre as resilientes história e pertença nacionais seria mais bem-sucedida, se a retórica nativista da linguagem de protesto bradada não convocasse a participação em esforço paramilitar sob romantismo irresponsável.
Propagandístico, o engajamento de compatriotas em seções milicianas tenta fazer do sacrifício de civis medida resolutiva à omissão da presidência da República e de instituições homólogas no afã mobilizador de defesa do país, obliterando interesses de agentes também externos na continuidade decretada de uma guerra sem fim. Hiperdramatizadora dos eventos narrados, a trilha sonora ainda concorre com seus temas musicais à justificativa de crimes cuja extensão desconsidera o financiamento das atividades do grupo e o caráter, porque uxoricida, traumático da agência de não militares no conflito. No lugar de valorizá-la enquanto acúmulo emancipatório e libertário de um povo, Porcelain War transforma a arte em poder de fogo e de destruição da vida pelo esfacelamento das subjetividades.