Furiosa: Uma Saga Mad Max: com a presença e o protagonismo de mulheres, o futuro projetado por George Miller é de esperanças e de novos consensos sobre o viver agora

Thainá Campos Seriz
3 min readJun 5, 2024
Pôster promocional de “Furiosa: Uma Saga Mad Max” (título original: “Furiosa: A Mad Max Saga”, 2024), filme dirigido por George Miller e corroteirizado por Nico Lathouris e por George Miller. Foto: reprodução.

Título original: Furiosa: A Mad Max Saga
Países de origem: Austrália e Estados Unidos (2024)
Duração: 148 minutos
Gênero: ação; aventura; fantasia
Direção: George Miller
Roteiro: Nico Lathouris e George Miller
Produção: George Miller e Doug Mitchell
Fotografia: Simon Duggan
Montagem: Margaret Sixel
Trilha sonora: Junkie XL
Figurino: Jenny Beavan
Direção de elenco: Nikki Barrett
Distribuição (Brasil): Warner Bros. Pictures
Elenco: Anya Taylor-Joy, Chris Hemsworth, Alyla Browne, Tom Burke

Megalomaníaco, superlativo e histriônico. Como Mad Max: Estrada da Fúria (título original: Mad Max: Fury Road, 2015), Furiosa: Uma Saga Mad Max (título original: Furiosa: A Mad Max Saga) (Warner Bros. Pictures, 2024) hiperboliza a singular criatividade de George Miller, agora, na superimaginação da estelar trajetória da ainda não conhecida Imperatriz Furiosa, ícone maior do grandioso quarto filme da série. Desde o sequestro no Vale Verde e o consequente apocalipse da própria infância, a pequena Furiosa (Alyla Browne e Anya Taylor-Joy) forja-se estoica no desértico mundo masculino em que Immortan Joe (Lachy Hulme) reina misógina e despoticamente. No melhor papel da carreira, Chris Hemsworth encarna Dementus, algoz cuja tragicomédia reflete antes a neurose mobilizadora da pulsão violenta de homens decaídos ante o culto à autoimagem de tipo fascista, pois para sempre traumatizados entre perdas.

Assassino de sua amada mãe (Charlee Fraser) e principal responsável por seu sequestro do Vale Verde, Dementus (Chris Hemsworth) é antagonista dos mais sarcasticamente odiosos de ainda jovens Furiosas (Alyla Browne e Anya Taylor-Joy). Fotos: reprodução.

Em ocasião renovada, o (D)eserto refunda-se expressão da queda coletiva ao arbítrio das masculinidades e da fobia homonacionalista (Preciado, 2017) à pluralidade humana. A opressão à pobreza e a escassez expropriadora mimetizam assim a economia política (Marx, 1867) do capitalismo neoliberal e, à fantasia, Miller opera o triunfo derradeiro, porque histórico, da resistência aos pátrios poderes pela garantia da vida. O autor reconhece a agência protagonista de mulheres no esforço conjunto de simbolização da utopia projetada e, neste sentido, a escolha de Alyla Browne e de Anya Taylor-Joy inflexiona a apoteose (já) alcançada por Charlize Theron em Fury Road. Se a predominância de close-ups e de planos médios à sequência vária de plongées destaca tamanho protagonismo, a intertextualidade visual estabelecida com outros dos longas do universo Mad Max — além de Estrada da Fúria, referências a Mad Max (1979) e a Mad Max 2 — A Caçada Continua (título original: Mad Max 2: The Road Warrior, 1981) foram incluídas — consolida e encerra cíclicos os eventos narrados à origem.

O uso sobremaneira inteligente dos efeitos visuais amplifica com unicidade o dramático enredo, a considerar-se, em especial, o céu saturado em amarelo e em azul enquanto metonímia da dualidade de extremos além-climáticos na consecução do retorno à dignidade em seu lugar. Constatável, a miscelânea aqui operada de gêneros cinematográficos é bem-sucedida em tributar à escola australiana verve cosmopolita. O elemento científico da ficção social presentificada por Furiosa: A Mad Max Saga insere em escala épica assombrosa o futuro de sombras e de esperança aguardado com temor. A ida ao cinema servirá de preâmbulo para as soluções a consensuar na salvaguarda de novas possibilidades ao existir.

A transição entre a infância e a adultez faz da resiliência de Furiosa (Alyla Browne e Anya Taylor-Joy) força motriz de sua luta por justiça. Fotos: reprodução.

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Thainá Campos Seriz

Historiadora (UFF). Pesquisa e revisão de conteúdo no Canal Preto. Podcaster no ObSessões de Cinema.