Flow: animação de Gints Zilbalodis é didática em estabelecer a solidariedade como valor fundamental à garantia da vida entre perigos e ameaças
Título original: Straume
Países de origem: Letônia, Bélgica e França (2024)
Duração: 85 minutos
Gênero: animação
Direção: Gints Zilbalodis
Roteiro: Gints Zilbalodis e Matīss Kaža
Produção: Gints Zilbalodis, Matīss Kaža, Ron Dyens e Gregory Zalcman
Fotografia e montagem: Gints Zilbalodis
Efeitos especiais: Léo Silly Pelissier e Pierre Mousquet
Música: Rihards Zalupe
Distribuição (Brasil): Mares Filmes
Certamente cultivável ao influxo de qualquer trajetória, a solitude parece conciliar a tentativa de realização do futuro com os desafios do presente e com o temor de frustrações. No caso de Flow (título original: Straume, 2024) (Mares Filmes, 2025), entretanto, a perspectiva da hecatombe climática confronta as certezas da pacata vida de irrelevâncias de um pequeno gato cuja resposta ao chamado da natureza parece oscilar entre a superação de um passado traumático não revelado e a recusa à conformidade. A fuga à inundação da floresta de origem provoca a série de encontros responsável pelo desabrochar do inseguro felino que, aos poucos, conquista a liberdade das próprias emoções na afetiva jornada de refazimento dos laços comunitários.
A beleza do projeto gráfico do filme de Gints Zilbalodis faz das cores em tela potente reflexo interior dos atravessamentos surgidos ao esforço de sobrevivência. Representando aspectos de psicologias várias, o cachorro, a capivara, o lêmure e o pássaro-secretário materializam estágios do amadurecimento desencadeado à proximidade de novos atores na reconstrução de história não mais tão solitária em seu mundo. Se à amizade a crença no bem-viver reserva o direito à esperança, a solidariedade torna-se valor a celebrar na luta pró-atraso do fim da existência como conhecemos.