Ferrari: melhor abordagem cinebiográfica é aquela que elege escrutinar uma trajetória a partir de suas ações no tempo
Título original: Ferrari
País de origem: Estados Unidos (2023)
Duração: 130 minutos
Gênero: cinebiografia; drama biográfico
Direção: Michael Mann
Roteiro: Troy Kennedy Martin
Obra original: Brock Yates (1991)
Produção: John Lesher, Michael Mann, Thorsten Schumacher, Lars Sylvest, Marie Savare, Gareth West, Andrea Iervolino e Monika Bacardi
Direção de fotografia: Erik Messerschmidt
Trilha sonora: Daniel Pemberton
Montagem: Pietro Scalia
Figurino: Massimo Cantini Parrini
Direção de arte: Maria Djurkovic
Distribuição (Brasil): Diamond Films
Elenco: Adam Driver, Penélope Cruz, Shailene Woodley, Gabriel Leone, Sarah Gadon, Jack O’Connell, Patrick Dempsey, Michele Savoia, Erik Haugen, Giuseppe Bonifati
Por sorte, enfim, a saga de assistir a Ferrari (2023) (Diamond Films, 2024) no circuito de festivais foi superada na audiência em tempo deste novo longa com direção de Michael Mann (Fogo contra Fogo; Colateral). Destaque-se que a escolha do recorte temporal proposta ao roteiro de Troy Kennedy Martin permite o escrutínio da natureza humana entre a análise investigativa das estratégias de superação dos dilemas interpostos por cenário catastrófico qualquer. Nome maior do automobilismo italiano no pós-guerra (1939–1945), em 1957, Enzo (nascido Enzo Anselmo Giuseppe Maria Ferrari, 1898–1988) (Adam Driver) e Laura Ferrari (nascida Laura Dominica Garello, 1900–1978) (Penélope Cruz) precisam lidar com a partida precoce do filho Dino (1932–1956) em meio à iminência da bancarrota da escuderia. Considerando-se a fuga emocional propiciada pelo simultâneo relacionamento com Lina Lardi (Shailene Woodley), Ferrari vê arriscado o futuro da companhia fundada em 1947 ante uma eventual desnacionalização do capital investidor e o da união de décadas com a esposa frente ao luto e ao confronto de visões distintas acerca do negócio familiar.
Enquanto uma câmera inquieta tenta dar conta da ansiedade do protagonista em torno da saída de período tão adverso, a insistência em planos médios e no enquadramento sempre central da personagem de Adam Driver visa ressaltar a agência de Enzo F. na resolução da crise pessoal-profissional instalada. A aposta das últimas fichas na corrida daquele ano de Mille Miglia alegoriza quais não são imprevisíveis os esforços a executar-se em empresa semelhante, a despeito de terríveis consequências. Longe de abonar as questionáveis condutas arroladas na narrativa, Mann e Kennedy Martin antes re-produzem a materialidade contextual para o engajamento mais ativo do público na matéria examinada e um mais justo julgamento das ações envidadas. Apesar ou não dos efeitos visuais deficitários, as belíssimas atuações em cena e a excelente direção de arte (Maria Djurkovic) ainda tornam singular a presente realização.
Adaptação cinematográfica do volume Enzo Ferrari: The Man and the Machine (Brock Yates, 1991), Ferrari chega hoje, quinta-feira (22), aos cinemas brasileiros.