Fernanda Young — Foge-me ao Controle: documentário antibiográfico persegue trilha labiríntica da escritora de ascendente em Gêmeos e cuja obra reflete a não estranheza da própria posteridade

Thainá Campos Seriz
4 min readApr 10, 2024

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Pôster promocional de “Fernanda Young — Foge-me ao Controle” (2024), longa com direção de Susanna Lira e roteiro final de Clara Eyer e de Ítalo Rocha. Foto: reprodução.

Título original: Fernanda Young — Foge-me ao Controle
País de origem: Brasil (2024)
Duração: 87 minutos
Gênero: documentário
Direção: Susanna Lira
Direção assistente: Clara Eyer
Consultoria: Eugênia Ribas
Argumento: Marcella Tovar e Susanna Lira
Pesquisa: Marcella Tovar
Roteiro: Beto Passeri e Bruno Passeri
Roteiro final: Clara Eyer e Ítalo Rocha
Produção: Susanna Lira e Tito Gomes
Narração: Maria Ribeiro
Produção executiva: Lívia Nunes
Coordenação de produção: Gabriella Fischer
Coordenação de pós-produção: Clara Eyer
Direção de produção: Janaína Brasil
Pesquisa de conteúdo: Clara Eyer e Ítalo Rocha
Pesquisa (Acervo Globo): Karina Vasconcelos e Michell Belizário
Assistência de pesquisa: Pilar Sla Lira
Pesquisa de imagens: Rebecca Moure
Montagem: Ítalo Rocha
Assistência em montagem: Matheus Teixeira e Rê Ferreira
Produção de conteúdo de arquivo e licenciamento: Leticia de Souza Barbosa e Gabriella Fischer
Trilha sonora original: Flavia Tygel
Colorização: Glauco Guigon
Finalização: Lucas Martinelli
Desenho de som: Ítalo Rocha
Mixagem: Tiago Picado
Motion design: Moa Fagundes e Luciana Gama

Biografia não convencional ou documentário antibiográfico, Fernanda Young — Foge-me ao Controle (2024) envereda (n)a trilha labiríntica por que a autora-título (nascida Fernanda Maria Young de Carvalho Machado, 1970–2019) perseguiu e sentiu-se perseguida uma vez em vida, considerando-se a própria vida. O caminho poético-visual interposto no longa com direção de Susanna Lira é seguro em construir retrato unicamente plural da escritora, roteirista, atriz e apresentadora niteroiense, pois não tenta domar a potência de F. Young à casuística de uma narrativa-legado, embora opere enquanto tal. A justaposição em bricolagem de registros audiovisuais e gráfico-literários em 1ª e em 3ª pessoas (voice-overs de Maria Ribeiro e de Estela May Young), de trechos de programas e de séries roteirizados em parceria com o sempre companheiro Alexandre Machado e de intertextualidades cinematográficas ajuda a compor as impressões legadas por Fernanda Y. a respeito do início da trajetória profissional e dos principais temas de interesse de escrita, além da dislexia, do abandono paterno, do casamento, da experiência da quádrupla maternidade e da depressão, bem como do estupro sofrido na adolescência e da maturidade da carreira editorial. Sobre este aspecto, a criadora aborda os desafios ainda contemporâneos da autoria de mulheres entre o cânone brasileiro em relato hilstiano (1930–2004) do desprezo percebido pelo sucesso alcançado além-letras.

A escritora, roteirista, atriz e apresentadora Fernanda Young (1970–2019). Foto 1: reprodução. Foto 2: Bob Wolfenson.

Identificada com os Outros de si em imagem e em texto, Young sabia-se escritora, porque antes se conhecia eterna — ou ao amor — . Embora James Baldwin (1924–1987) o tivesse declarado movimento impopular (1970), uma asmática crônica fizera-o matéria informadora das luzes e das sombras coletivamente elaboradas em todos os seus quinze livros publicados (1996–2019), feito tributário da certeza da posteridade. Inquieta do ascendente em Gêmeos, o constante apelo da melancolia tornava-a artista da ansiedade no agora e, porque à procura de cada novo tempo, escolhia a nudez para vestir a cabeça. No ballet mecânico (dir.: Fernand Léger e Dudley Murphy, 1924) de uma múltipla existência qual Germaine Dulac (1922; 1929), Maria (Metropolis. Dir.: Fritz Lang, 1927), Salomé (Charles Bryant, 1923) e Dziga Vertov (Man with a Movie Camera, 1927), ao som de punk, de Roberto Carlos ou de Roberta Miranda, a Fernanda de sobrenome Young pediu-nos o esquecimento, caso não pudéssemos usar branco (A Louca Debaixo do Branco, 2012). Lamento informar, mas minhas melhores amigas chamam-se Fernanda — Young é a 2ª — , as viajantes corajosas cujo vazio das ausências provocam reclamações de alcance da paz e, por isso, não posso esquecê-las. Garanto, Fernanda, nunca mais abandonei o branco.

Se reclamar é perspectiva otimista (sic), reclamo em prantos a saudade arrancada do peito. Tenho certeza, também sou eterna.

O silêncio de quatro anos da partida precoce da escritora (8/2019) chega ao fim neste Fernanda Young — Foge-me ao Controle (2024), estreia do É Tudo Verdade 2024. Foto 1: Gigi Kassis. Foto 2: Estela May Young.

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Thainá Campos Seriz
Thainá Campos Seriz

Written by Thainá Campos Seriz

Historiadora (UFF). Pesquisa e revisão de conteúdo no Canal Preto. Escrevo sobre cinema.

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