Edifício Master: observação participante é parte do mútuo escrutínio sancionado à ruptura da atividade cinematográfica

Thainá Campos Seriz
2 min readFeb 21, 2024

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Pôster promocional de “Edifício Master” (2002), longa documental com direção e roteiro de Eduardo Coutinho. Foto: reprodução.

Título original: Edifício Master
País de origem: Brasil (2002)
Duração: 110 minutos
Gênero: documentário
Direção e roteiro: Eduardo Coutinho
Produção executiva: João Moreira Salles e Mauricio Andrade Ramos
Direção de fotografia: Jacques Cheuiche
Montagem: Jordana Berg
Distribuição: VideoFilmes
Elenco: moradores do Condomínio Edifício Master

A escuta ativa de Eduardo Coutinho torna-o documentarista por excelência. A investigação do cotidiano do Edifício Master no longa documental homônimo (VideoFilmes, 2002) leva-o à presença das mais distintas humanidades em meio ao caos urbanoide da Copacabana do início do milênio. Reforçada a observação, no entanto, participante, dada a permissão auferida para o retorno contudo provisório do olhar já à abertura, a variação entre planos (médios e primeiríssimos) destaca ora a centralidade narrativa das trajetórias desveladas, ora o escrutínio admitido invasor das privacidades, não obstante sua ruptura sancionada. Em outra vaga, o foco intermediário sobre parte da fachada do conjunto condominial evidencia o caráter percebido, porém autossilenciado da solidão da vida em centros urbanos e o drama por vezes ruidoso do convívio com as diferenças, física e alegoricamente estabelecido à incomunicabilidade arquitetônica.

Algumas das adoráveis personagens moradoras do Condomínio Edifício Master. Fotos: reprodução.

Se as 24 horas diárias interpõem enquanto imperativo à sobrevivência o existir solitário, quando e uma vez feito solitário, da manutenção ou não de redes de sociabilidade dependerá a síntese alternativa de soluções aos dilemas do urbanismo, porque antes coletivas. Guardada a bem-vinda mudança de sensibilidades da atual década, o não confronto com as contradições discursivas permitiu a expressão sem amarras, mas ambivalente, das individualidades entrevistadas, pois sem julgamentos e coagente das histórias reelaboradas àquele encontro. Por fim, a interdição ao ato de observar como inferida no desfecho é contra-movimento resistente ao limite satisfeito da exploração visual-narrativa das biografias apresentadas, apesar de outrora autorizada.

Se se compreende a injunção nietzscheana quanto ao exame per se retornado do abismo, tê-lo de forma prolongada rompe, então, com a atividade cinematográfica. À metalinguagem, Coutinho completou nova obra-prima.

Visto para o Clube do Filme.

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Thainá Campos Seriz
Thainá Campos Seriz

Written by Thainá Campos Seriz

Historiadora (UFF). Pesquisa e revisão de conteúdo no Canal Preto. Escrevo sobre cinema.

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