Duna: Parte 2: monumental, adaptação de Denis Villeneuve do clássico de 1965 higieniza sujidade crítica à (branca) ocidentalidade em longa ainda replicador da fantasia orientalista herbertiana
Título original: Dune: Part Two
País de origem: Estados Unidos (2024)
Duração: 166 minutos
Gênero: épico; ficção científica
Direção: Denis Villeneuve
Roteiro: Denis Villeneuve, Eric Roth e Jon Spaihts
Obra original: Frank Herbert (1965)
Produção: Denis Villeneuve, Mary Parent, Cale Boyter e Joe Caracciolo Jr.
Fotografia: Greig Fraser
Montagem: Joe Walker
Direção de arte: Patrice Vermette
Música: Hans Zimmer
Figurino: Jacqueline West
Distribuição (Brasil): Warner Bros. Pictures
Elenco: Timothée Chalamet, Zendaya, Rebecca Ferguson, Josh Brolin, Stellan Skarsgård, Dave Bautista, Stephen McKinley Henderson, Charlotte Rampling, Javier Bardem, Florence Pugh, Austin Butler, Christopher Walken, Léa Seydoux, Souheila Yacoub
A monumentalidade de Duna: Parte 2 (título original: Dune: Part Two) (Warner Bros. Pictures, 2024) é subjugadora. Perfeito, o apuro técnico da adaptação do clássico homônimo de Frank Herbert (1965) realiza o incontornável poder construtor de mundos do cinema, pois quase fiel externalizador dos sonhos. Porque perfeito, contudo, o também épico de Denis Villeneuve torna-se higienizado demais ante cenário cujos bancos de areia sujam intenções, falsas idolatrias e projetos amorosos.
Estimulante, a dramática dubiedade do longa incute o questionamento a brancos salvacionismos, a vocações e a destinos racialisticamente manifestos, à falácia nacionalista religiosa e à redução autocrata de lideranças messiânicas enquanto funda ancestral a resistência das cosmologias indígenas Fremen no território de Arrakis. A clarividente apropriação de signos e de símbolos das culturas árabe-amazigh-islâmicas por Herbert reverencia-os magnânimos à imemorialidade dos complexos filosóficos oeste-asiáticos (Médio Oriente), mas seu limitado entendimento sobre os mesmos arranjos sociopolíticos parece imputar a tais sistemas a pecha do atraso e do fanatismo. Continente à obra-base, a inclinação orientalista (Said, 1978) encontra ecos em Dune: Part Two pela reverência do diretor canadense ao volume de 1965, e ainda vê-la replicada instila particular cansaço.