Diários da Caixa Preta: em documentário indicado ao Oscar 2025, Shiori Itō conduz denúncia à misoginia institucional e ao patriarcado japonês em processo que revela sua descida ao inferno da justiça e da opinião pública do país
Título original: Black Box Diaries
Países de origem: Japão, Estados Unidos e Reino Unido (2024)
Duração: 102 minutos
Gênero: documentário
Direção e roteiro: Shiori Itō
Produção: Shiori Itō, Hanna Aquilin e Eric Nyari
Fotografia: Hanna Aqvilin, Yûta Okamura e Keke Shiratama
Montagem: Ema Ryan Yamazaki
Música: Marcos Degli Antoni
Desenho de som: Andrew Tracy
Elenco: Shiori Itō
Em Diários da Caixa Preta (título original: Black Box Diaries) (MTV Documentary Films, 2024), a jornalista Shiori Itō documenta o imbróglio que, midiático e jurídico-parlamentar, culminaria na denúncia do estupro perpetrado contra si por Noriyuki Yamaguchi, alto executivo da TV estatal japonesa cujas ligações com o ex-primeiro-ministro Shinzo Abe (1954–2022) vedar-lhe-iam a responsabilização. Em feito inédito, desde 2015, Itō ofereceria o próprio rosto para a face pública do caso pelo qual sofreria com o escrutínio familiar, de autoridades policiais e de homens e de mulheres anônimos como manifestação da misoginia institucional e da resiliência societária do patriarcado. Por esforços individuais, o processo jornalístico agregaria depoimentos de testemunhas e de membros do aparato investigativo reveladores da normatividade cultural da violência contra a mulher e do sistêmico ativismo de proteção às hierarquias e aos círculos do poder, tamanha complexidade de desmonte do edifício político de privilégios e de opressões históricas.
Eclodido em 2017, o Movimento Me Too acresceria legitimidade ao pleito de uma ação civil contrária a Yamaguchi ainda não concluída, em virtude do recurso impetrado à sentença condenatória proferida em 2022. A considerar-se a alarmante subnotificação de crimes desta natureza no país, as tais caixas pretas evidenciam as vagas do exercício persistentemente límbico da dignidade humana de sobreviventes ao silenciamento de dores negligenciadas e à invisibilidade estrutural. No rio de lágrimas vertido em consolo ao desalento então vigente à injustiça, possam flores de cerejeira desabrochar em fértil solo interior de reparação e de cura.