Dahomey: repatriações éticas animam debate pós-colonial sobre reparações e o conhecimento da história de África em excelente longa documental de Mati Diop
Título: Dahomey
Países de origem: Senegal, Benin e França (2024)
Duração: 70 minutos
Gênero: documentário
Direção e roteiro: Mati Diop
Produção: Eve Robin, Judith Lou Lévy e Mati Diop
Fotografia: Josephine Drouin-Viallard
Montagem: Gabriel Gonzalez
Som: Corneille Houssou e Cyril Holtz
Desenho de som: Nicolas Becker
Trilha sonora: Wally Badarou e Dean Blunt
Distribuição (Brasil): MUBI
Elenco: Gildas Adannou, Habib Ahandessi, Joséa Guedje
A perspectiva interna do debate concernente às repatriações éticas é triunfo maior de Mati Diop em Dahomey (MUBI, 2024). O retorno de 26 artefatos político-religioso-culturais daomeanos sequestrados via ação do imperialismo oitocentista francês (1892–4) à república beninense é arguído pela realizadora franco-senegalesa em exercício que, fantástico, confessa um ontológico balanço pós-colonial às identidades e ao futuro africanos/afrodiaspóricos. Criada à câmera, a originalíssima visão do heteronomeado bem 26 do próprio processo de retirada museal até a travessia atlântica e a chegada ao território materno justapõe-se à vocalização em idioma fon acerca do conhecimento negado da história social dos feitos de África pela sanha etnocida europeia pós-Conferência de Berlim (1884–5) e pelo epistemicídio (Carneiro, 2005) racialista acadêmico.
Na sequência do transporte, da recepção cerimonial no país de origem e da mostra respectivamente exibida ao grande público, a conferência universitária bem-organiza os principais aspectos das discussões vigentes sobre reparações, justiça restaurativa e decolonialidade à luz da nova geopolítica intercontinental e das disputas por memória no presente jogo econômico-diplomático multipolar. Se assédio metropolitano continuado, silenciamento às dissidências, desafio objetivo de transição inacabada ou diversionismo, ainda interior é o legado das rupturas familiares e dos traumas da violência política às subjetividades, reservado o estado opressivo de coisas de existir em diáspora. Reconhecida a cisão outrora forjada, Diop, como Lélia Gonzalez (1988), reanima a intelectualidade e a sabedoria da história e da cultura africanas enquanto continua ancestrais, pois antes signos vivos da resistência e da dignidade negras além-Maafa (Ani, 1988).