Babygirl: busca do prazer normaliza abusos e hierarquia em jogo pretensamente feminista de sedução marital pensado por Halina Reijn
Título: Babygirl
País de origem: Estados Unidos (2024)
Duração: 114 minutos
Gênero: suspense erótico
Direção e roteiro: Halina Reijn
Produção: Halina Reijn, David Hinojosa e Julia Oh
Fotografia: Jasper Wolf
Montagem: Matthew Hannam
Direção de arte: Stephen Carter
Música: Cristóbal Tapia de Veer
Mixagem de som: Wyatt Tuzo
Figurino: Kurt and Bart
Distribuição (Brasil): Diamond Films
Elenco: Nicole Kidman, Harris Dickinson, Antonio Banderas, Sophie Wilde, Esther McGregor, Vaughan Reilly
Criados aos jogos de ângulos na decupagem, os duplos de Romy Mathis (Nicole Kidman) metonimizam a projeção de imagem pública cuja domesticidade reflete modelo subjetivo todavia não rompido com as imagens de controle (ver Collins, 1991) do branco patriarcado. Mathis replica parte do edifício emocional amalgamador de seu poderio à frente da presidência da Tensile entre as relações familiares, fazendo dos laços com o companheiro Jacob (Antonio Banderas) e com as filhas Nora (Vaughan Reilly) e Isabel (Esther McGregor) marcadores performáticos de gênero e de classe em contexto sociopolítico de presença não masculina ainda solitária. Em Babygirl (2024) (Diamond Films, 2025), a frustração sexual da protagonista de uma entregue Kidman é o mote da queda da personagem à oferta proposta pelo carreirista Samuel (Harris Dickinson), que alimenta os reprimidos desejos da todo-poderosa diretora-executiva em uma torrente de sedução e de quereres proibidos inconfessos.
Repetitivo em imagens, em conflitos e em motivações frente a acúmulo já existente no gênero, o filme da diretora-roteirista Halina Reijn realiza Romy pessoa apenas enfadada com a vida conjugal de orgasmos não alcançados na cama e cujo teatro de submissão fetichista normaliza hierarquias e assédios para a supremacia autonegada de impetuosa personalidade. De forma pouco complexa, léxico e teoria feministas querem justificar o recurso à mímese como esforço pró-desvelamento de injunção patriarcal relacionada ao exercício dito ressentido do poder por mulheres em cargos decisórios ou de liderança, pois em fuga a papel determinado, quando, em verdade, foram manipulados a transformar em falsamente empático o processo de retorno daquela parceria ao leito marital, agora, sob disponibilidade orgasmática mais recíproca. A ilusão construída em torno do vislumbre à estrela de De Olhos Bem Fechados (título original: Eyes Wide Shut, 1999) e de Big Little Lies ajoelhada no quarto sujo de um hotel (ou motel?) três estrelas em busca de prazer logo sucumbe à percepção da audiência de etapa purgatória dos nefandos pecados de uma Eva a ser restabelecida modelar, ou mariana, ao legado de um feminismo civilizatório.