Asteroid City e o cansaço de Wes Anderson
Direção: Wes Anderson
Produção: Wes Anderson, Jeremy Dawson e Steven M. Rales
Roteiro: Wes Anderson e Roman Coppola
História: Wes Anderson e Roman Coppola
Trilha sonora: Alexandre Desplat
Cinematografia: Robert Yeoman
Distribuição: Focus Features
Elenco: Jason Schwartzman, Scarlett Johansson, Tom Hanks, Jeffrey Wright, Tilda Swinton, Bryan Cranston, Edward Norton, Adrien Brody, Liev Schreiber, Hope Davis, Rupert Friend, Maya Hawke, Steve Carell, Matt Dillon, Hong Chau, Willem Dafoe, Margot Robbie, Tony Revolori, Jake Ryan
Quando se fala sobre o cinema de Wes Anderson, lembro imediatamente a paleta de cores pastéis e a exaustiva simetria de todos os planos. Mais que um estilo próprio, falamos de uma estilização, dada a recorrência do uso destes e de outros elementos em suas criações. Em Asteroid City (Focus Features/Universal Pictures, 2023), o formalismo em demasiado do diretor texano encontra, porque (em) inflexão máxima, algum cansaço. O uso de gêneros artísticos distintos em metalinguagem para a construção de sentido e o desvelamento das histórias em tela perde-se na obsessão da forma narrativa, e a trama, subserviente à estética, tem esvaziadas quaisquer tentativas mais diretas de conexão e de empatia.
O enredo conta a história da peça do dramaturgo Schubert Green (Adrien Brody) acerca de outra história (sim, isso mesmo) escrita para o teatro pelo também dramaturgo Conrad Earp (Edward Norton), em 1955, a respeito de uma família a qual, em luto, parte até a cidade-título do filme no Oeste estadunidense (entre Califórnia, Nevada e Arizona) para a participação do primogênito em uma competição de jovens cientistas e vê-se obrigada a ficar em quarentena com outros estranhos reunidos ao deserto pelo mesmo propósito, em razão da chegada de uma nave alienígena ao local. Sem saber como contar o destino da então ex-companheira e mãe dos filhos (Margot Robbie) Woodrow (Jake Ryan), Andromeda, Pandora e Cassiopeia (Willan e Ella Farris), Augie Steenbeck (Jason Schwartzman) envereda em uma jornada individual e coletiva de redescoberta pós-luto e de reconciliação com o sogro Stanley Zak (Tom Hanks) para, enfim, unir-se às suas crianças e ao adolescente no processo de reconstrução dos laços e das relações familiares depois da perda.
Já na pele da estrela Mildred Campbell, Scarlett Johansson é quem melhor encara, ou encarna, a tarefa de refletir sobre a depressão e a jornada profissional feminina entre o exercício compulsório ou não da maternidade, em especial, quando mãe e filha já estão desconectadas. Sigo sem compreender a reencenação, por Johansson, do famoso quadro em alusão à morte do líder jacobino Jean-Paul Marat (1743–1793) (A morte de Marat, Jacques-Louis Davis, 1793), pois o retrato em questão é o de um assassinato político, mas, no geral, particularmente, oscilei entre a confusão e a incompreensão.
Se o narrador de Bryan Cranston contribuiu como guia, inclusive, na distinção de linhas temporais, porque destacado no núcleo em preto e branco, de sua inserção fala o debate da forma artística como representação dos dramas da humanidade qual via de elaboração não racional, e intricada, de traumas. O controle excessivo da estética é a via de Anderson para a simbolização de suas tragédias e/ou de evitação das próprias dores, e Asteroid City entra no rol de outra das obras de desejo do diretor e roteirista em discutir o estado da arte enquanto este campo. Sendo o excesso formal sintoma, então, do desequilíbrio do estadunidense por uma busca incessante, continuar fugindo do que precisa ou quer cuidar via re-estilização de si só cansará a si mesmo e a nós, o público.