Assassino por Acaso: romance combina tragédia, comicidade, drama e suspense em nota algo satírica de Richard Linklater sobre a economia neoliberalizada dos afetos e da imagem

Thainá Campos Seriz
4 min readJun 13, 2024
Pôsteres promocionais de “Assassino por Acaso” (título original: “Hit Man”, 2023) (Diamond Films, 2024), longa dirigido por Richard Linklater (Trilogia do Antes) e corroteirizado por Glen Powell e por Richard Linklater. Foto 1: divulgação/Diamond Flims. Foto 2: reprodução.

Título original: Hit Man
País de origem: Estados Unidos (2023)
Duração: 115 minutos
Gênero: comédia; romance; suspense; ação
Direção: Richard Linklater
Roteiro: Glen Powell e Richard Linklater
História original: Skip Hollandsworth (2001)
Produção: Mike Blizzard, Richard Linklater, Glen Powell, Jason Bateman e Michael Costigan
Fotografia: Shane F. Kelly
Montagem: Sandra Adair
Direção de arte: Rodney Becker
Trilha sonora: Graham Reynolds
Figurino: Juliana Hoffpauir
Distribuição (Brasil): Diamond Films
Elenco: Glen Powell, Adria Arjona, Austin Amelio, Retta, Sanjay Rao

A intertextualidade estabelecida com clássicos de um heterodenominado romance de ação à abertura de Assassino por Acaso (título original: Hit Man, 2023) (Diamond Films, 2024) faria vincular a estreia da próxima quarta-feira (12) nos cinemas à história das aventuras de intrépidos casais criminosos cujo exemplo, apesar de fascinante, torná-los-ia reprováveis em moral. Não inovadora e, por isso, tributária a cinema já clássico, diga-se, a proposta de Richard Linklater (Trilogia do Antes) diferencia-se à inspiração pouco convencional em trajetória tão insólita quanto as escolhas do roteiro de autoria de Glen Powell e de Richard Linklater para Hit Man. Se Breaking Bad — A Química do Mal (Netflix, 2008–2013) faria consagrar docentes criminosamente inusuais a assustadas sensibilidades, o elemento filosófico da caracterização psíquica de Gary Johnson (Glen Powell) adiciona à comédia romântica assistida igual viés satírico.

Gary Johnson (Glen Powell) é um professor universitário que, nas horas vagas, trabalha como freelancer para a polícia local. Com o afastamento do colega Jasper (Austin Amelio) de suas funções, Johnson é quem precisa assumir a falsa identidade de assassino de aluguel. Fotos: divulgação/Diamond Films.

Na companhia dos gatos Id e Ego (Freud, 1856–1939, envia recordações), Johnson divide a docência universitária com o trabalho na polícia, quando precisa envidar um (falso) assassino de aluguel. Nas diversas personas assumidas ao protagonista, a ficção coletiva (ver Yunus, 1983) retroalimentada entre o desejo e a vontade feitos interpessoais evidencia-a sintoma de uma economia relacional neurotizada (Freud, 1888) à reprodução das imagens de si e de outrem (Collins, 1991) no desenho individualista, pois controlado, dos afetos. Atual, a solidão construída às personagens em cena reflete a mudança paradigmática introduzida pelo neoliberalismo digital(izador) ao modelo socioafetivo então vigente e a ruptura todavia continuista do jugo de indivíduos ou de grupos a opressões sistêmicas.

Reduzida ao papel de submissão marital, Madison Figueroa Masters (Adria Arjona) encontra em Ron (Glen Powell) a chance de libertar-se dos abusos do marido Ray (Evan Holtzman). Não obstante o potencial indício homicida representado por Figueroa Masters à atuação em campo de Gary J., o que se vê é o desenrolar de um intrincado relacionamento emulador das fantasias de amor, de excitação e de segurança emocional sonhadas a dois. Múltipla, a linha cômica sugerida às performances e aos diálogos equilibra tragédia, drama, suspense e absurdismo na complexidade per se de motivações e na química explosiva, pois sexy, da dupla Glen Powell e Adria Arjona.

A taxa de sucesso alcançada por G. Johnson (Glen Powell) na polícia encontra um revés: ao evitar a incriminação de Madison Figueroa Masters (Adria Arjona) pelo homicídio do abusivo marido Ray (Evan Holtzman), o protagonista envidado por Powell envolve-se em um jogo de sedução e de crimes. Fotos: divulgação/Diamond Films.

Consequência ou não fantástica de um querer compartilhado, o desfecho de tipo já singular à filmografia do diretor-roteirista termina por redimir destino outrora conhecido aos congêneres (Bonnie e Clyde — Uma Rajada de Bala, 1967; Assassinos por Natureza, 1994) na presente parceria. Sempre desejado, o bem-amar permanece tema indireto ou central de elaboração da cinematografia do realizador estadunidense. Guardadas as distinções, até o happily ever after, demonstra Linklater, o (longo) caminho a seguir-se em busca pode guardar alguma (necessária) diversão.

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Thainá Campos Seriz

Historiadora (UFF). Pesquisa e revisão de conteúdo no Canal Preto. Podcaster no ObSessões de Cinema.