Alma Negra, do Quilombo ao Baile: registro documental da trajetória da soul music nacional é espaço de (re)afirmação inconteste do triunfo da história afro-brasileira
Título: Alma Negra, do Quilombo ao Baile
País de origem: Brasil (2024)
Duração: 104 minutos
Gênero: documentário
Direção: Flavio Frederico
Roteiro: Mariana Pamplona e Flavio Frederico
Produção: Flavio Frederico e BiD (Eduardo Bidlovski)
Fotografia: Jacob Solitrenick, Jacques Cheuiche, Janice D’Avila e Carlos André Zalasik
Montagem: Flavio Frederico
Direção de arte: Rafael Terpins
Música: Eduardo Bidlovski (BiD)
Desenho de som: Ricardo Camara e Toco Cerqueira
Distribuição: Kinoscópio
Elenco: Carlos Dafé, Tony Tornado, Zezé Motta, Edneia Gonçalves, Dom Filó
Registro e, agora, fonte, Alma Negra, do Quilombo ao Baile (Kinoscópio, 2024) eterniza na grande tela a história da música soul (negro-)brasileira e condensa-a expressão da intelectualidade quilombola (ver sentido de Nascimento, 1976) nacional, pois lócus de reorganização subjetiva e positivador identitário. Desenvolvido sob a perspectiva redefinida pela historiadora Beatriz Nascimento (1942–1995) de quilombo e à luz de depoimentos dos especialistas Edneia Gonçalves e Carlos Medeiros e de fazedores artísticos da cena black music, o longa documental sumariza o continuum ontossociológico do movimento que, ideopolítico e cultural, animaria as resistências africana e afro-brasileira ao sequestro transatlântico e a distintas vagas do colonialismo luso-racial em meio à formação brasílica, informando entre signos e narrativa a autodeterminação e a corporeidade negras. Do canto de lamento na plantation algodoeira sul-estadunidense ao jazz, ao R&B, ao rock’n’roll e às intersecções com o samba e com demais ritmos da diáspora, o trânsito intercultural (sem preeminências) estabeleceu-se nexo compartilhado de saberes, de feitos e de inspiração antes coletivos (conferir acepção de Gonzalez, 1988), conforme ratifica Gonçalves.
Note-se, contudo, a ausência de proporcionalidade à citação da presença feminina no rol de expoentes cujos nomes, é preciso admitir, são reabilitados à grandeza das inovações propostas (Tim Maia, 1942–1998; Cassiano, 1943–2021; Jorge Ben Jor; Gerson King Combo, 1943–2020), bem como outras inconsistências — no desfecho, algumas personalidades negras têm a si imagens erroneamente atribuídas (a título de exemplo, mencione-se Aqualtune, ?-1650; Tereza de Benguela, 1700–1770; e Maria Firmina dos Reis, 1822–1917), e no caso de Glória Maria, a jornalista nunca quisera relevar a idade — . Em balanço, o inestimável valor do documentário de Flavio Frederico torna a ida aos cinemas obrigatória, e a obra, trabalho historiográfico impulsionador.