All of Us Strangers: o amor entre iguais pode ser conquista realizável na grande tela

Thainá Campos Seriz
3 min readOct 20, 2023

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Pôster oficial de “All of Us Strangers” (título em português/BR: “Todos Nós Desconhecidos”), com direção e roteiro de Andrew Haigh. Foto: reprodução.

Título original: All of Us Strangers
Países de origem: Reino Unido e Estados Unidos
Duração: 105 minutos
Gênero: romance; fantasia; drama
Direção e roteiro: Andrew Haigh
Obra original: Taichi Yamada (1987)
Produção: Graham Broadbent, Peter Czernin e Sarah Harvey
Coprodução: Jeremy Campbell
Produção executiva: Daniel Battsek, Farhana Bhula, Ben Knight, Ollie Madden e Diarmuid McKeown
Trilha sonora: Emilie Levienaise-Farrouch
Direção de fotografia: Jamie D. Ramsay
Design de produção: Sarah Finlay
Direção de arte: Bill Brown (supervisão) e Luke Deering
Edição: Jonathan Alberts
Empresas produtoras: Blueprint Pictures e Searchlight Pictures
Empresas coprodutoras: FILM 4 e TSG Entertainment
Distribuição: Searchlight Pictures
Elenco: Paul Mescal, Andrew Scott, Claire Foy, Jaime Bell

Um roteirista em hiato criativo depara-se com um misterioso vizinho nas áreas comuns do quase esvaziado edifício onde mora no centro de Londres e, uma vez atraído, resolve aceitar a aproximação. Dado o envolvimento amoroso bem-estabelecido, Adam (Andrew Scott) decide retornar à casa de sua infância no subúrbio londrino e, lá, encontra os falecidos pais qual antes ainda o trágico acidente de carro que os vitimara há trinta anos. 2ª adaptação do romance Strangers (1987), do autor japonês Taichi Yamada (1934), para a grande tela, All of Us Strangers (título em português/BR: Todos Nós Desconhecidos) consolida Paul Mescal enquanto ator dramático de grande monta, agora, na pele do depressivo Harry, vizinho com quem Adam dá início a uma calorosa relação em meio à rotina até então não aquebrantável da própria solidão.

O encontro que Adam (Andrew Scott) jamais esqueceria: no elevador do quase esvaziado edifício onde mora em Londres, Harry (Paul Mescal), vizinho do 11º andar , surge, enfim, na vida de solidão de nosso protagonista. Foto: divulgação/Searchlight Pictures.

Para localizar-nos no isolamento de Adam, a belíssima fotografia de Jamie D. Ramsay situa seu magnífico intérprete nos cantos inferiores de cada quadro, ao passo que as várias transições elípticas afiguram-se expressões imagéticas aos próprios sentires deste coprotagonista praticamente saído do campo de visão da pessoa espectadora, porque autotornado irrelevante entre uma existência solitária. A direção e o roteiro de Andrew Haigh atualizam sensivelmente o romance de 1987 no caos da vida solitária em grandes centros urbanos e da tentativa de equilíbrio entre afetos e dramas individuais, pois, antes, coletivos à vida no capitalismo. Se a homossexualidade não é questão central à decadência psíquica das personagens, a fantasia de poder vê-la acolhida entre o núcleo familiar de referência é ficcionalizada nas linhas de Haigh, ou de Adam, embora a realidade contrária ainda seja persistentemente material. Já a perspectiva talvez sonhadora de futuro ao lado das suas e dos seus é o motivo do retorno ao passado, e o luto faz-se projeção no presente idealizado da narrativa a construir do roteiro do escritor, cuja performance de Andrew Scott é madura no acolhimento exato à complexidade interposta por tantos, e conhecidos, conflitos internos.

Claire Foy (à frente) e Jamie Bell (atrás) são os pais de Adam (Andrew Scott) neste romance dramático de fantasia. Foto: divulgação/Searchlight Pictures.

Mescal convence na intensidade dos sentimentos e do drama de Harry, outro a quem o amor poderia merecidamente aplacar as tempestades por que se inundava sem medida escapatória. Talvez Adam, Harry e nós merecêssemos a completude prometida de um ainda recém-iniciado, porém promissor romance. Apesar das sombras e da solidão, ou dos dramas forjados entre ambas sobre nossas existências, o amor pode e deve ser fonte disponível de realizações individuais. Torço para sermos capazes de ainda produzi-lo possível nas grandes telas das salas escuras.

Assistido no Festival do Rio, All of Us Strangers não tem data de estreia prevista nos cinemas brasileiros.

À esquerda, Harry (Paul Mescal) e, à direita, Adam (Andrew Scott). Foto: divulgação/Searchlight Pictures.

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Thainá Campos Seriz
Thainá Campos Seriz

Written by Thainá Campos Seriz

Historiadora (UFF). Pesquisa e revisão de conteúdo no Canal Preto. Escrevo sobre cinema.

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