A Última Rainha: entre história e lenda, épico recorda a vanguarda da resistência argelina ao assédio de conquistadores
Título original: La Dernière Reine (الملكة الأخيرة)
Países de origem: Argélia, França, Arábio Saudita, Catar e Taiwan
Duração: 110 minutos
Gênero: drama; filme de época
Direção e roteiro: Adila Bendimerad e Damien Ounouri
Produção executiva: Patrick Sobelman e Damien Ounouri
Produção: Patrick Sobelman, Roger Huang, Justine O., Hugo Legrand-Nathan, Yacine Medkour, Adila Bendimerad e Damien Ounouri
Coprodução: Sofica Sofinergie 5
Direção de fotografia: Shadi Chaaban
Montagem: Matthieu Laclau e Yann-Shan Tsai
Trilha sonora: Evgueni Galperine e Sacha Galperine
Distribuição: Imovision
Elenco: Adila Bendimerad, Dali Benssalah, Mohamed Tahar Zaoui, Nadia Tereszkiewicz, Imen Noel, Yanis Aouine
Um épico falado em árabe e com elenco inteiramente maghrebino. Qual emoção não foi puder conferir na grande o drama histórico A Última Rainha (título original: La Dernière Reine; الملكة الأخيرة) (Imovision, 2023), longa com direção e roteiro da dupla Damien Ounouri e Adila Bendimerad que ambienta o público na Argel do então sultanato com ares republicanos de Salim Toumi (Mohamed Tahar Zaoui), governante da capital junto a um Conselho de Notáveis, em 1516, durante a ocupação espanhola do território. A agrura dos anos sob domínio da Espanha católica encontraria fim na aliança estratégica de Toumi com o corsário andaluz Androuj Barberousse (Dali Benssalah), cuja força militar suplantaria os invasores em uma sanguinolenta batalha de abertura belissimamente intercalada em efeito com as imagens dos amplos e suntuosos jardins do (existente) Palácio Real, em locação, aliás, autorizada pelo atual governo do país. As brigas intestinas seguintes à expulsão do reino europeu culminaram no magnicídio do sultão Thaalibi e, por conseguinte, no destaque à sultana Zaphira (Adila Bendimerad), esposa favorita de Toumi e figura política aglutinadora dos anseios das facções opositoras ao grupo de Barberousse na sucessão ao trono do filho Yahia (Yanis Anouine).
Entre a disputa direta com o árabe andaluz e a própria família, Zaphira encarna, por certo olhar feminista da direção e do roteiro — os close-ups não me desmentirão — , o sacrifício e a resistência argelinos a assediadores os quais ainda tentam usurpar a glória de Argel aos próprios nacionais, mesmo mais de cinco séculos depois. Figura de existência até hoje contestada por seu acúmulo improvável ou não de poder nos Quinhentos argelino, a sultana inspirou esta bem-recebida produção no Festival de Cinema de Veneza 2022 para recordar-nos da vanguarda da resistência argelina no continente, palco que foi de uma das mais importantes (e renhidas) revoluções de independência em África — o processo do país iniciou-se já em 1954 — .
A reconstituição de época realizada pela direção de arte (figurinos, cenário, ritualística) é impecável, como o longa, considerando-se seus objetivo, porque ao arrepio de alguma historiografia. Aplaudido na França, o filme chega em momento propício à denúncia da nova investida colonial francesa sobre seus reformados domínios (desta vez, Burkina Faso, Mali e Níger).
A Última Rainha está em cartaz nos cinemas.