A Garota da Agulha: drama expressionista vocaliza degenerescência societária ao fóbico realismo das desigualdades em novo filme do diretor dinamarquês Magnus von Horn

Thainá Campos Seriz
2 min readFeb 7, 2025

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Pôster promocional de “A Garota da Agulha” (título original: “Pigen Med Nålen”, 2024) (MUBI, 2025), longa dirigido por Magnus von Horn e roteirizado por Line Langebek e por Magnus von Horn indicado ao Oscar 2025 de Melhor Filme Internacional. Foto: reprodução.

Título original: Pigen Med Nålen
Países de origem: Dinamarca, Polônia e Suécia (2024)
Duração: 123 minutos
Gênero: terror psicológico
Direção: Magnus von Horn
Roteiro: Line Langebek e Magnus von Horn
Produção: Malene Blenkov e Mariusz Włodarski
Fotografia: Michał Dymek
Montagem: Agnieszka Glinska
Direção de arte: Jagna Dobesz
Música: Frederikke Hoffmeier
Figurino: Malgorzata Fudala e Zuzanna Kot
Distribuição (Brasil): MUBI
Elenco: Vic Carmen Sonne, Trine Dyrholm, Besir Zeciri, Ava Knox Martin, Joachim Fjelstrup

Irregular como a moralidade dos agentes sociais em cena, a topografia da cidade dinamarquesa de A Garota da Agulha (título original: Pigen Med Nålen, 2024) (MUBI, 2025) desvela a ascendência e a queda experimentadas por Karoline Nielsen (Vic Carmen Sonne) em jornada feita solitária ao alistamento do companheiro desaparecido (Besir Zeciri) no esforço de guerra (1914–8). Da bancarrota ao arremedo de parceria romântica vivida com o patrão Jørgen (Joachim Fjelstrup), à protagonista de Vic Carmen Sonne a fantasia da ascensão entre classes logo decairia às sombras da arrogância pequeno-burguesa e da rigidez que, opressiva, replicaria às linhas retas da plurissecular arquitetura urbana hierarquia subjugadora dos afetos e da sanidade. Por fim, a tentativa desesperada de abortamento a uma concepção indesejada leva-a ao encontro da promessa de Dagmar Overby (Trine Dyrholm) e da menina Erena (Ava Knox Martin) por outro destino à pequena recém-saída do ventre e do novo naufrágio de sua existência no conflito de interesses cujos mistérios não revelados degenerariam a própria humanidade.

Achacada por um romance falido e pelo destino de violências que, misóginas, revelariam a ignomínia da sociedade dinamarquesa do pós-guerra (1914–8), Karoline (Vic Carmen Sonne) encontraria na amizade com Dagmar (Trine Dyrholm) céu solidário à própria queda no inferno do mundo. Fotos: reprodução.

Além-formal, a fotografia em preto e branco oferece mergulho surreal-expressionista à emocionalidade de personagem assombrada pela covardia e pela culpa. Consequentes à descoberta do macabro negócio da protetora, a adicção e o torpor operariam escapismo doloroso à fóbica realidade de violências do entorno. Sendo o mundo um lugar horrível, a quem vive cabe a tarefa de transformá-lo, pois coisa mais certa é o legado da esperança por dias melhores.

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Thainá Campos Seriz
Thainá Campos Seriz

Written by Thainá Campos Seriz

Historiadora (UFF). Pesquisa e revisão de conteúdo no Canal Preto. Escrevo sobre cinema.

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