A Conspiração Consumista: documentário de Nic Stacey repisa bases práticas e teórico-conceituais de estágio vigente do capitalismo financeiro globalizado para crítica pouco imparcial sobre consumismo e plataformização na era do marketing por demanda

Thainá Campos Seriz
2 min readNov 27, 2024

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Pôster promocional de “A Conspiração Consumista” (título original: “Buy Now! The Shopping Conspiracy”) (Netflix, 2024), documentário dirigido e roteirizado por Nic Stacey. Foto: reprodução.

Título original: Buy Now! The Shopping Conspiracy
País de origem: Reino Unido (2024)
Duração: 84 minutos
Gênero: documentário
Direção e roteiro: Nic Stacey
Produção: Flora Bagenal
Fotografia: Brendan McGinty
Montagem: Samuel R Santana
Música: David Schweitzer
Distribuição (Brasil): Netflix
Elenco: Eric Liedtke, Chloe Asaam, Mara Einstein

Não obstante mecanismo desvelado em e por literaturas pregressas, A Conspiração Consumista (título original: Buy Now! The Shopping Conspiracy) (Netflix, 2024) é pedagógico em repisar bases conceituais e teórico-práticas do modelo capitalista financeiro vigente e de suas tecnologias político-econômicas. O uso narrativo da Inteligência Artificial (IA) Sasha será didático no estabelecimento de cinco pontos para um negócio de sucesso, ao que a respectiva elucidação apreciada à consulta a ex-executivos de grandes companhias e a referências da luta anticonsumismo tratará da análise crítica às injunções expedidas. Emuladora da pesquisa a buscadores e da plataformização do conhecimento por gigantes do setor privado, à IA só restou examinar o papel dos streamings e do consumo audiovisual por demanda entre as transformações identificadas como contemporâneas.

Didático, o documentário desvela em cinco injunções o processo de hiperestímulo ao consumo hoje promotor de severos impactos ambientais sobre a periferia do capital no estágio mais contemporâneo do capitalismo financeiro planetário. Foto: reprodução.

Inflexão de processo redefinidor da ordem mundial pós-Plano Marshall (1945), a reabertura setentista de fronteiras a mercados metropolitanos desregulamentaria economias regionais/locais para maximizar lucros à transnacionalização da cadeia produtiva. Já com o advento da rede de computadores, da interconectividade e da relevância cibernética, clássicos ciclos de oferta e de demanda seriam artificialmente remodelados ao decréscimo da atuação de órgãos fiscalizatórios e de controle da máquina pública sobre o pacto social produzido pelo triunfo de novos padrões subjetivos atrelados ao desenraizamento comunitário e pela neurociência de marketing. Por fim, se a preocupação com os impactos ambientais oriundos do desperdício na periferia do capital, com a sustentabilidade e com o trabalho precarizado compreenderia reações organizadas do 3º setor (sociedade civil) frente ao desmonte das governanças nacionais e internacionais, o sequestro neoliberalizador de projetos anticapitalistas ameaça subtrair o elemento radical de transformação de agendas e de programas correlatos ao avanço do neofascismo e da extrema-direita em âmbito planetário.

A reconhecer-se os efeitos sobretudo psíquicos de tamanho desalento frente à recolonização do globo, em exemplo talvez diverso ao suscitado na presente obra, o reencantamento à nova leitura do conjunto intelectual emancipatório outrora acumulado faz-se (re)curso da disputa contra-hegemônica a travar em nome do bem-viver e do direito à vida de todos os seres viventes.

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Thainá Campos Seriz
Thainá Campos Seriz

Written by Thainá Campos Seriz

Historiadora (UFF). Pesquisa e revisão de conteúdo no Canal Preto. Escrevo sobre cinema.

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